DEPOIS DE TODO AQUELE TEMPO >> André Ferrer
O problema estava naquilo que era ser um professor de Química e sempre discutir a vida em termos de reagentes e produtos. Naquilo que sempre tinha sido transpirar e urinar Lógica. De repente (à luz de um sol que degelava um embrião esquecido), descobriu-se.
Na padaria, inacreditavelmente, deixou passar o tubo de reações "desbalanceadas" do “tiozinho” da caixa. Tolerou, minutos depois, a entrópica ignorância do jornaleiro.
No carro, à “Rádio Que Toca Notícia”, preferiu uma que tocava música e o repórter do helicóptero, dito “fodão do real time”, nem foi lembrado. Trânsito sem oráculo. Dia deixado à ventura.
“Noto que comprou jornal! E que tal?!”, disse o chato na entrada do colégio. “Derrapou, de novo, aquele ‘seu’ herói delator! Hein? Hein? Hein?”
Mesmo sendo minoria — no pátio e na vida —, o bedel não incomodou. Quis. Ardeu. Desejou. E, decerto, como se aquilo fosse o ar de todas as manhãs, aspirou! Inútil. O professor de Química deu de ombros para a política (depois de todo aquele tempo se importando, até que estava feliz).
“Hein?”
Na sala dos professores, uma cordilheira de caninos, molares e incisivos contra um céu escarlate de bocas. Enfim, a matilha. “Tantos anos”, ele não perguntou, “e quando foi mesmo que o macho alfa rejeitou um recém-nascido?”
“As notícias! Ontem. Você já sabe.”
“Lobo”, não disse, “olhe para trás e aprecie a fila de cheiradores de traseiro!”
“Hein?”
Na sua defesa com alma de ataque, o professor de Química disse apenas “bom dia” (porque, afinal, tinha renascido).
“Queridos”, não disse.
“Queridos, a guerra por mim não é.” Com todas as forças, não quis dizer (porque renascer é duro é duro é duro). E foi nessa calma, nesse paraíso, nessa tranquilidade em forma de um cancã de pernas e rabos entremetidos que tudo mais, a manhã e a tarde e o dia, transcorreu.
Na padaria, inacreditavelmente, deixou passar o tubo de reações "desbalanceadas" do “tiozinho” da caixa. Tolerou, minutos depois, a entrópica ignorância do jornaleiro.
No carro, à “Rádio Que Toca Notícia”, preferiu uma que tocava música e o repórter do helicóptero, dito “fodão do real time”, nem foi lembrado. Trânsito sem oráculo. Dia deixado à ventura.
“Noto que comprou jornal! E que tal?!”, disse o chato na entrada do colégio. “Derrapou, de novo, aquele ‘seu’ herói delator! Hein? Hein? Hein?”
Mesmo sendo minoria — no pátio e na vida —, o bedel não incomodou. Quis. Ardeu. Desejou. E, decerto, como se aquilo fosse o ar de todas as manhãs, aspirou! Inútil. O professor de Química deu de ombros para a política (depois de todo aquele tempo se importando, até que estava feliz).
“Hein?”
Na sala dos professores, uma cordilheira de caninos, molares e incisivos contra um céu escarlate de bocas. Enfim, a matilha. “Tantos anos”, ele não perguntou, “e quando foi mesmo que o macho alfa rejeitou um recém-nascido?”
“As notícias! Ontem. Você já sabe.”
“Lobo”, não disse, “olhe para trás e aprecie a fila de cheiradores de traseiro!”
“Hein?”
Na sua defesa com alma de ataque, o professor de Química disse apenas “bom dia” (porque, afinal, tinha renascido).
“Queridos”, não disse.
“Queridos, a guerra por mim não é.” Com todas as forças, não quis dizer (porque renascer é duro é duro é duro). E foi nessa calma, nesse paraíso, nessa tranquilidade em forma de um cancã de pernas e rabos entremetidos que tudo mais, a manhã e a tarde e o dia, transcorreu.
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