TECIDOS >> Carla Dias >>
Não é preciso ter algo a dizer sobre tudo, tampouco confundir erudição com sabedoria. Desculpe, mas haverá dias em que você estará completamente enganado sobre assuntos importantes. E até poderá lutar muito, na tentativa de que sua certeza prevaleça, afinal, você foi educado para isso. Ainda assim, no final do dia você terá de aceitar que nada do que disser ou fizer mudará o fato de você estar enganado.
Equivocar-se faz parte de ser humano.
Às vezes, o equívoco é um acerto de contas do destino. De repente, o que você tinha por certo se transforma em outra coisa, podendo até ser uma coisa muito melhor e mais positiva.
Ter algo a dizer sobre tudo é cansativo. Parei com isso há algum tempo. Exceto aquilo que me atinge enquanto cidadã, ultimamente eu ando escolhendo quais assuntos a desfiar.
Tenho nada a dizer sobre tecidos, ainda que algumas cores e estampas me inquietem o olhar. Conheci costureiras que tinham o que falar sobre eles. Então, eles deixavam de ser somente tecidos para se tornarem pano de fundo de significativos acontecimentos. Cada peça tinha uma história que era sobre uma pessoa. O vestido da moça para dia de graduação. O terno para o senhor usar em dia de comemoração de três décadas de casamento. A colcha, presente de aniversário para a mãe. As cortinas para a primeira casa própria. O cenário para estreia do espetáculo. Percebi ser impossível eu dissertar sobre a importância que tecidos têm para outros. Deixei os tecidos por conta das costureiras e seus clientes. Assumi meu papel de ouvinte.
Cheguei à conclusão — logo depois de atingir a exaustão atribuída aos que tentam abraçar o mundo e seus assuntos — de que somos muitos e diversos, justamente para que possamos dividir a tarefa da compreensão. Dessa forma, há momentos em que podemos descansar do dizer e exercermos a sabedoria do escutar.
Imagem © Mônica Côrtes
Comentários
Também tenho assumido, progressivamente, meu papel de ouvinte.
Mas você fala bem de tecidos, viu? :)
Zoraya... Pode deixar que exercitarei :)