TEMPOS DE ANTANHO >> André Ferrer
Durante os dias áureos de redes sociais, com o Orkut e ICQ por exemplo, o ambiente virtual não era propriamente um mosaico de criatividade espontânea e expressões autênticas, mas havia frescor. Comunidades temáticas reuniam pessoas por interesses comuns, desde fãs de séries cult até entusiastas de filosofia ou hobbies inusitados. Havia uma leveza no compartilhamento: a ideia de personalizar perfis com cores, músicas e depoimentos trazia um toque de individualidade quase artesanal. A interação era regida por curiosidade genuína e pelo prazer de explorar essas conexões, sem a pressão sufocante dos algoritmos ou a obsessão pelo desempenho métrico.
Nos anos 2000, o foco estava em compartilhar momentos, pensamentos e preferências de maneira despretensiosa, quase como se cada usuário fosse um pequeno curador de sua própria identidade digital. Era um momento em que o mercado via o potencial dessas plataformas de maneira ainda embrionária, apostando mais na construção de comunidades do que em estratégias agressivas de monetização.
As redes sociais dos anos 2000, como o Orkut e o MySpace, surgiram como espaços que celebravam a conexão humana. Nelas, as interações eram guiadas por afinidades e espontaneidade, em um ambiente que incentivava vínculos autênticos. Hoje, o cenário mudou. Redes sociais modernas transformaram a criatividade em uma engrenagem de produção incessante. A diversidade de conteúdos permanece, mas frequentemente submetida a uma lógica de relevância calculada: tudo precisa ser otimizado, escalável e engajante. Likes, compartilhamentos e visualizações tornaram-se uma moeda emocional que alimenta tanto a exaltação momentânea quanto o desgaste prolongado. A necessidade de estar presente, de publicar, de interagir, muitas vezes esgota o usuário, que se sente preso em uma rotina digital incessante. O frescor original dá lugar a um cansaço latente, onde o prazer de criar é, por vezes, substituído pela ansiedade de performar.
Comentários