TEMPOS DE ANTANHO >> André Ferrer

Durante os dias áureos de redes sociais, com o Orkut e ICQ por exemplo, o ambiente virtual não era propriamente um mosaico de criatividade espontânea e expressões autênticas, mas havia frescor. Comunidades temáticas reuniam pessoas por interesses comuns, desde fãs de séries cult até entusiastas de filosofia ou hobbies inusitados. Havia uma leveza no compartilhamento: a ideia de personalizar perfis com cores, músicas e depoimentos trazia um toque de individualidade quase artesanal. A interação era regida por curiosidade genuína e pelo prazer de explorar essas conexões, sem a pressão sufocante dos algoritmos ou a obsessão pelo desempenho métrico.

Nos anos 2000, o foco estava em compartilhar momentos, pensamentos e preferências de maneira despretensiosa, quase como se cada usuário fosse um pequeno curador de sua própria identidade digital. Era um momento em que o mercado via o potencial dessas plataformas de maneira ainda embrionária, apostando mais na construção de comunidades do que em estratégias agressivas de monetização.

Com o tempo, porém, as redes sociais passaram a ser dominadas por modelos de negócio baseados na exploração do engajamento. Plataformas como Facebook, Instagram e, mais recentemente, TikTok, transformaram as interações humanas em dados, convertendo cliques, curtidas e compartilhamentos em métricas de valor comercial. A publicidade invadiu as relações, moldando não apenas o que consumimos, mas também como nos apresentamos e interagimos. O que antes era uma troca genuína tornou-se frequentemente uma performance, onde o usuário busca validação e relevância, muitas vezes guiado por tendências ditadas por marcas e influenciadores.

IMAGEM: ChatGPT

Hoje, o mercado não apenas participa das redes sociais; ele rege grande parte das dinâmicas que ocorrem nelas. As relações humanas, cada vez mais mediadas por algoritmos, se entrelaçam com interesses comerciais, diluindo a linha entre expressão pessoal e consumo. Ao invés de comunidades orgânicas, vemos bolhas cuidadosamente projetadas para maximizar retenção e engajamento. A busca por autenticidade ainda existe, mas convive com uma constante tensão: até que ponto nossas conexões online refletem quem somos e até onde são reflexos das engrenagens de um sistema que lucra com nossa interação?

As redes sociais dos anos 2000, como o Orkut e o MySpace, surgiram como espaços que celebravam a conexão humana. Nelas, as interações eram guiadas por afinidades e espontaneidade, em um ambiente que incentivava vínculos autênticos. Hoje, o cenário mudou. Redes sociais modernas transformaram a criatividade em uma engrenagem de produção incessante. A diversidade de conteúdos permanece, mas frequentemente submetida a uma lógica de relevância calculada: tudo precisa ser otimizado, escalável e engajante. Likes, compartilhamentos e visualizações tornaram-se uma moeda emocional que alimenta tanto a exaltação momentânea quanto o desgaste prolongado. A necessidade de estar presente, de publicar, de interagir, muitas vezes esgota o usuário, que se sente preso em uma rotina digital incessante. O frescor original dá lugar a um cansaço latente, onde o prazer de criar é, por vezes, substituído pela ansiedade de performar.

Comentários

Zoraya Cesar disse…
fora os que realmente postam conteúdos interessantes, mas ficam escondidos no meio de tanta mediocridade.
Soraya Jordão disse…
Tenho feito o exercício de ficar cada vez menos. Cansada de dar dinheiro para essa gente, deixando de lado coisas importantes.

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