ESTES DIAS >> Eduardo Loureiro Jr.
Qualquer dia daqueles, a vida será difícil novamente. Não haverá sol, não haverá mar, não terei saúde, não verei sentido em nada, ou quase nada. Remoerei meus sonhos não realizados, lamentarei os amores perdidos, reclamarei da temperatura, do governo, do destino. Pensarei que é melhor morrer o quanto antes, que a vida não vale a pena. Esquecerei de levar a toalha para o banheiro e, já ensaboado, não terei a quem pedir que me traga uma. Ficarei preocupado se terei dinheiro daqui a dois meses. Chorarei meus mortos e desaparecidos. Não dormirei depois do almoço, as calças e bermudas estarão todas apertadas e meu apetite será muito maior que minha vontade de fazer dieta. Não ouvirei nada que me faça pensar "isso dá uma canção", e o volume dos carros e das máquinas será mais alto que o canto dos passarinhos. Haverá mais cinza que verde, mais cimento que árvores. Voltarei a ser tímido e não terei condições de falar ou olhar para a mulher que meu coração dilata. Não terei almofadas em que encostar minha mente cansada. Comerei o resto do resto do resto de ontem. Olharei paredes vazias, ouvirei palavras vazias. Não serei mais lindo, nem inspirarei versos e canções.
Qualquer dia daqueles, mas não hoje, nem amanhã, nem depois de amanhã. Qualquer dia daqueles, porque a vida é imprevisível, o céu se nubla, o mar é agitado, acidentes acontecem, labirintos existem, os sonhos são muitos, a saudade é insistente, o El Niño talvez nunca entre na adolescência, o poder político costuma corromper, Deus tem planos curiosos, a morte é quase certa, a pena nem sempre é pluma, a solidão é fera, as bolsas de valores variam, esquecidos retornam em sonhos, aparecem aulas às duas da tarde, baião-de-dois com paçoca e carne de sol beira o irresistível, as musas gregas tiram férias, a civilização tecnológica avança, a timidez tem recaídas, estofos ressecam, comidas estragam, paixões esmaecem... Qualquer dia daqueles, mas não agora, nem daqui a pouco, nem daqui a muito.
Por enquanto, está bom do jeito que está. E eu agradeço.
Qualquer dia daqueles, mas não hoje, nem amanhã, nem depois de amanhã. Qualquer dia daqueles, porque a vida é imprevisível, o céu se nubla, o mar é agitado, acidentes acontecem, labirintos existem, os sonhos são muitos, a saudade é insistente, o El Niño talvez nunca entre na adolescência, o poder político costuma corromper, Deus tem planos curiosos, a morte é quase certa, a pena nem sempre é pluma, a solidão é fera, as bolsas de valores variam, esquecidos retornam em sonhos, aparecem aulas às duas da tarde, baião-de-dois com paçoca e carne de sol beira o irresistível, as musas gregas tiram férias, a civilização tecnológica avança, a timidez tem recaídas, estofos ressecam, comidas estragam, paixões esmaecem... Qualquer dia daqueles, mas não agora, nem daqui a pouco, nem daqui a muito.
Por enquanto, está bom do jeito que está. E eu agradeço.
Comentários
Um beijo pra vc.
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