VOCÊ COME OU GUARDA O PUDIM? >> Mariana Scherma
Eu
fui a um show no último final de semana e fiquei meio triste por conta do
fulano na minha frente, que filmou o show INTEIRO. Não uma música que ele
gostasse mais ou umas selfies com sua galera. Não, o show todinho na memória do
celular. Aliás, fiquei com uma (mini) inveja dessa superbateria do celular dele
e do tantão de memória. Mas também fiquei com dó, dele e de mais um tantão de
gente que fazia questão de filmar e fotografar tudo (sem estar trabalhando na
cobertura de imprensa).
Esse
tanto de tecnologia na palma da nossa mão tem deixado a galera meio perdida e
sem saber como viver direito. O desespero em registrar os momentos é tão enorme
que as pessoas só os registram e se esquecem de vivê-los. O show que eu
mencionei foi do Alceu Valença. Ele brincou, fez piada e nos deu um show que
também parecia uma conversa na mesa de bar. Meus amigos e eu dançamos, rimos e
ficamos admirados pelo sujeito que o Alceu é. O cara do celular gravou tudo e,
quando rever o vídeo, suspeito eu, não terá as mesmas lembranças que minha
turma e eu. A visão que tivemos era geral, ampla... Ele, por mais que a tela de
seu celular fosse grandinha, só assistiu ao show dos 10cm X 8cm ou sei lá
quanto media o smartphone dele.
Acho
que a gente deveria se perguntar às vezes “pra que tanta lembrança se nem temos
vivido esses momentos com gosto?”. Do que adianta guardar, se você não sentiu o
gosto? Minha mãe diria “quer comer o pudim e guardar o pudim”. Não me leve a
mal, eu sou super a favor de registrar momentos, mas só depois de aproveitá-los
ao máximo. Sabe quando você se deparara com a paisagem mais linda? Primeiro,
olhe-a, sinta-a, respire-a. Depois, pode vir a foto. Por mais lindo que seja o
registro de uma paisagem, ele nunca vai ser igual a original, disso tenho
certeza. Quando viajo e vou mostrar as fotos, as pessoas se admiram e eu penso
“não é nem 10% do original”.
O
vício de tanta foto e vídeo tem muito a ver com as redes sociais, todo mundo se
mostrando a todo mundo, uma dependência absurda de ser visto e admirado. Sei
lá, mas desde quando a gente passou a viver para os olhos dos outros? Sorte de
quem tem na memória a maior quantidade de gigabytes possíveis e não precisa
registrar ca-da pas-so pra mostrar que existe, é feliz, viaja, vê pôr do sol,
vai ao show do Alceu, malha todo dia, come salada e cia. Feliz de quem vive pra
se fazer feliz.
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