O OBSERVÁVEL >> Carla Dias >>
“O que vale na vida não é o ponto
de partida e sim a caminhada. Caminhando
e semeando, no fim terás o que colher.”
Cora Coralina
Muitos de nós definimos a vida como “plantar e colher”. Se aqui se faz, aqui se paga, ou mesmo se toda ação gera uma reação, são os entremeios que definem a colheita. As entrelinhas que colaboram com os desfechos.
Não há novidade a respeito disso, que todos nós estamos sujeitos ao toma-lá-dá-cá que a vida nos oferece, e que dinamiza a nossa existência. Ainda assim, muitos ainda insistem em não aceitar que essa é condição sobre a qual não temos qualquer poder. Aceitá-la no momento em que ela nos beneficia e descartá-la quando somos avessos ao seu resultado, não adianta. É até possível protelar o resultado, mas eventualmente ele se apresentará.
Resultado é o tipo de coisa que sofre com a nossa tendência a distorcer para caber em aprazimento próprio. Mesmo no plantar e colher, nem sempre a colheita é a dos benefícios. Fosse assim, ninguém morreria de fome ou por falta de respeito e consideração. Às vezes, resultado é o que há para o dia, com o que devemos nos virar, apesar de termos feito o melhor cultivo de todos os tempos.
Nosso caminho nessa vida é composto por resultados.
Não adianta culpar o universo, maldizer a Deus e favorecer ao diabo com um requintado repertório de indignações, nem mesmo convalescer de ódio mortal pelos envolvidos na sua colheita ruim. Plantar e colher pode reger essa sinfonia que é a vida da gente, mas nem sempre o resultado traz boa música ou primorosa execução. Ainda assim, é preciso continuar a cultivar.
O caminho que trilhamos tende a nos ensinar que somos indivíduos, mas também integrantes de uma sociedade. Nossas ações geram reações não somente a nós mesmos, mas aos que nos cercam. Nem todos compreendem isso.
A vida é complicada. Nós não somos nada simples. Porém, acredito na possibilidade de, dia desses, cultivarmos a consciência sobre o que fazemos e como nos comportamos como integrantes de uma sociedade, e a ponto de aceitarmos que, se nossas ações não forem meramente individualistas, se pudermos pensar no outro com o respeito com o qual devemos tratar a nós mesmos, poderemos celebrar reações muito mais nobres. A partir daí, o coletivo será tratado com justiça e discernimento.
Inspire-se a partir da fonte que mais lhe apetece: religião, política, ciência, arte. Importante é compreender que nós podemos escolher ficar a sós, mas não sozinhos. Não quando se trata do coletivo.
Independente da classe social, do quanto, financeiramente, cada um dispõe para sobreviver e viver, quando se trata de sociedade, a decisão é abrangente. Em momentos como este, melhor mesmo plantar diálogos e colher decisões que beneficiem a todos, ainda que elas não sejam as que, como indivíduos, julgamos serem as ideais.
Nosso caminho é o que nos define, mas principalmente enriquece quem somos com as redefinições que nos permite abraçar. Plantamos expectativas, caminhamos para adquirir experiências e colhemos a naturalidade de aprendermos com a vida ao vivê-la.
Plantar, caminhar e colher.
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