BEM CULTURAL >> Sergio Geia
Patrícia,
de São José, já tinha me falado dele. Eu, de Taubaté, não conhecia. Pois dia
desses resolvi baixar com uma galera no Jardim Cultural, na Chácara do Visconde,
aqui em Taubaté.
Não
encontrei a Emília, nem Narizinho, muito menos o Visconde de Sabugosa, embora o
sítio da Dona Benta ficasse pertinho dali, mas encontrei um bar maneiro, com gente
bonita, alternativa, num ambiente um tanto quanto original de quintal de casa
com direito a vasinhos de flor pendurados na parede; um quê de lounge. E
corujas. Muitas corujas. É que entre as cervejas, petiscos e coisa e tal uma
amiga me perguntou o porquê de eu encher minha casa de corujas. Eu confesso que
não entendi a pergunta. Aí ela me explicou que tinha percebido a existência de
corujas no rack, ao lado do telefone, em cima de livros. E também, não tinha
deixado de notar, o peso na porta da cozinha, uma coruja.
Ao som
de um rock anos 90, e sob a vista de uma morena que congelara seus lindos olhos
verdes na minha direção, muito embora com o namoradão do lado, lá fui eu contar
um pouco da minha história com as corujas. Na verdade, nada de muito especial. Só
acho a coruja um bichinho pra lá de simpático. É isso. Entre patos, marrecos,
ursos e corujas, eu prefiro as corujas. Lembro-me que perto de uma casa onde morei,
elas iam pra rua ao anoitecer. Uma beleza.
Expliquei
que existe toda uma simbologia por detrás da figura da coruja. A coruja é a ave
soberana da noite, e enxerga mais que qualquer um depois que o sol se põe. Para
muitos povos a coruja significa mistério, inteligência, sabedoria e
conhecimento. Na
mitologia grega, Athena, a deusa da sabedoria, tinha a coruja como símbolo.
Os gregos
consideravam a noite o momento ideal para o exercício do pensamento filosófico.
Como um animal da noite, a coruja era vista pelos gregos como símbolo da busca
pelo conhecimento. Havia toda uma tradição que dizia que quem comesse carne de
coruja iria adquirir seus dons de previsão e clarividências, mostrando poderes
divinatórios. Enquanto todos dormem a coruja fica acordada, com os olhos
arregalados, vigilante e atenta aos barulhos da noite, pronta para virar sua
cabecinha em até 270°. Por isso, representa para muitas culturas uma poderosa e
profunda conhecedora do oculto.
Tenho
uma coruja de madeira que fica perto do telefone, criada por um artesão de São
Bento do Sapucaí, comprada numa visita à Cachoeira dos Amores. Uma que minha
mãe ganhou de um amigo e me deu. Um peso na porta da cozinha, um porta-papel, e
mais algumas outras, vai.
Posso
lhe garantir que nossa conversa, depois de muita cerveja e de um olhar verde
estonteante, ficou muito mais interessante que uma simples conversa de botequim
sobre corujas. Mas isso foi depois das tantas... Está certo que a própria
arquitetura da casa — o rústico, o verde, os arranjos florais, a sensação de
estar no quintal de casa, a natureza viva pulsante — favorecia passeios
pseudo-filosóficos por corujas, vacas e afins. É que ao final daquele papo eu
emendei sem muito pensar: “Vocês viram a vaca que caiu do céu numa casa em
Guarulhos?” “Pelamor” — deu pra ouvir um rapaz falar do meu lado. Só
gargalhadas.
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