O QUE VESTIR? >> Cristiana Moura
Era o casamento de uma amiga, traje esporte fino. Quando me dei conta, não tinha roupa para o tal evento. Todas folgadas. Corri à casa de minha mãe que me emprestou um vestido. São constantes as mudanças no espelho depois que comecei a emagrecer. Por vezes, temo afogar-me como Narciso. Mas preciso olhar. Não se trata de contemplar a própria imagem. Trata-se de reconhecê-la.
As roupas de meses atrás, as perdi todas. Comprei novas. Alguns meses se passaram e ficaram folgadas também. Ontem fui buscá-las no conserto. Experimentei uma a uma ouvindo a opinião da atendente:
— Tá novinho, você não podia mesmo perder esse vestido!
Tira roupa, põe roupa. Tira roupa, põe roupa. Por vezes penso mesmo que estou trocando de pele. Quando eu já estava saindo ela disse:
— Já tá bom de apertar
este que você está usando, vestido folgado já não te cai bem.
— Volto em dois ou três quilos – respondi em concordância. Quando se faz dieta a gente começa a medir tempo em quilos.
Noutro dia, um amigo antigo que há tempos não encontrava, arregalou os olhos ao me ver. Nem precisava tanto tempo assim, dado que emagreci muito em seis ou sete meses.
Espontaneamente ele
disse. Ah, antes de contar isto vou esclarecendo que não citarei seu nome para
evitar mal entendidos Trata-se de um sujeito sério, bem casado. Desses que
fazem a gente acreditar em amores de uma vida inteira.
Bem, enfaticamente ele
disse:
— Cris, com todo respeito, como você está gostosa!
Eu olhei de canto de
olho, esbocei um sorriso daqueles que combinam com uma face rubra e disse
confundindo um jeito sem graça com o mais leve que um tom irônico pode ser:
— Ah, meu amigo, gostosa
é com certeza, um dos termos mais respeitosos que conheço.
E, secretamente,
pensei: às vésperas dos meus quarenta e três anos, quinze de divorciada, um
tanto menos de respeito até que me caía bem.
Imagem: Mulher no Espelho de Picasso
Imagem: Mulher no Espelho de Picasso
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