PEQUENOS GESTOS >> Clara Braga
Um grupo de amigos estava atravessando a rua fora da faixa, sendo que havia uma a menos de 100m de distância, quando tiveram que parar para dar passagem a um carro que vinha subindo a rua pois havia furado o sinal vermelho, já que não tinha ninguém para atravessar na faixa. O grupo de amigos se exaltou e gritou cheio de razão para o carro: o sinal está vermelho!
Provavelmente, o grupo de amigos decidiu atravessar ali mesmo, fora do sinal e da faixa, pois a rua estava pouco movimentada, já era tarde da noite. Mas não contavam que quando chegassem na metade da rua iriam dar de cara com um motorista que decidiu avançar o sinal vermelho, já que não havia ninguém para atravessar na faixa e hoje em dia já não é seguro parar sozinho em lugar nenhum tarde da noite. O motorista, por sua vez, também não imaginava que, depois que avançasse o sinal, encontraria um grupo de amigos que decidiu atravessar a rua fora do sinal. O grupo, se sentindo certo, reclamou. O motorista, vai saber o que pensou. Mas no final das contas, tem alguém de fato certo nessa história?
Já do outro lado do mundo, uma menina que está fazendo intercâmbio marca de sair com os amigos das mais diversas nacionalidades. O horário é 20:30, mas a brasileira chega às 20:45 e se surpreende ao perceber que seus colegas não esperaram por ela. Posteriormente, durante uma conversa com esses colegas, eles questionaram: os brasileiros sempre chegam uns minutos depois, será que é muito difícil chegar às 20:30 já que esse foi o horário marcado? Os brasileiros deixam os outros esperando, mas não gostam quando devem esperar!
Cada vez mais percebo que temos cultivado essa mania besta de exigirmos o que é certo por parte dos outros, mas, da nossa parte, continuamos a viver o tal do jeitinho brasileiro de ser, e tudo bem, afinal, é da nossa cultura ser assim, quer desculpa melhor que essa? E no final, nem achamos que devemos nos preocupar com esses pequenos deslizes, eles são pequenos mesmo.
Nunca compartilhei da ideia de que essas pequenas irregularidades, se é que posso chamar assim, não causam mal algum. E só confirmei minha opinião após ver um vídeo maravilhoso que foi muito compartilhado esses dias nas redes sociais. Nele, um historiador responde se existe solução para a corrupção no brasil, já que essa já faz morada por aqui. De forma muito tranquila o historiador disse: a solução começa com a educação que a gente dá para as crianças desde cedo. Estamos acostumados a ensinar que fazer o trabalho daquela matéria da escola vale a pena pois o trabalho vale nota. Que usar a moeda de 50 centavos que você encontrou no chão para comprar uma balinha sem ao menos perguntar se aquele dinheiro pertence a alguém é algo tranquilo. Assim como também aprendemos que não tem problema dizer que os 50 centavos são seus, mesmo que não sejam, se ninguém deu falta já era. É o famoso "perdeu, playboy!".
Todos esses atos são pequenos atos de corrupção que, se não analisados e debatidos com a devida importância, vão crescer com a pessoa e vão se adaptando às suas devidas proporções. Nós, que estamos exigindo um país sem corrupção, precisamos cada vez mais colocar nossas mãos na nossa consciência e nos perguntarmos se, além de exigir um país melhor, nós estamos sendo pessoas melhores. Nós temos um papel muito complexo, que é garantir uma geração de crianças que terão a oportunidade de crescer de forma justa, lutando e entendendo seus direitos. Sair da manifestação e furar o sinal vermelho ou atravessar fora da faixa não está com nada e não é a mensagem certa para se deixar para a sociedade em um momento como esses. Lembrem-se sempre, pequenos atos geram grandes consequências.
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