QUEM APRENDEU DIZER ADEUS? >> Fernanda Pinho
Eu tinha 26 anos e minha vida era completamente diferente do
que é hoje, aos 31. Revendo nossas primeiras conversas, percebo que cheguei
meio tímida. Preferia flutuar em temas leves, como lembranças da minha infância
num jardim chamado João Bolinha, a arriscar mergulhos mais profundos. Mas você me deu corda e eu sou dessas que não
precisa de muito para já me achar amiga.
Naturalmente, me senti à vontade para partilhar sentimentos
intensos, meus relacionamentos frustrados, minhas dúvidas existenciais. Falei
da minha mãe, do meu pai e da minha irmã. Falei das minhas crianças. Algumas,
já nem são mais crianças. Outras, já nem são mais minhas. Falei de gente que me
amava sem que eu soubesse. Falei de gente que eu achava que me amava (e que eu
achava que eu amava) e hoje sei que não. Falei dos que ainda me amam e de quem
nem merece dividir uma frase com o verbo “amar”. Chorei a morte da minha avó, de uma amiga e
de alguns relacionamentos. Mas celebrei
as superações, as amizades, as viagens, os bons livros e as festas.
Você viu, e registrou, quando tudo mudou completamente. Quando conheci meu marido, me casei, mudei de
país, voltei para o Brasil, montei duas casas, aprendi a cozinhar e me tornei
do tipo de pessoa que acredita no amor e tem uma marca de alvejante preferida.
Você aproximou algumas pessoas de mim, permitindo que elas
me conhecessem melhor. Você me aproximou de mim. Melhor que qualquer terapia
que eu já tenha feito. Me deu a chance de registrar o período mais construtivo
da minha vida. Através de você, palavras carinhosas, de apoio e de felicitações
chegaram até a mim nos momentos em que eu realmente precisava. Palavras
negativas, por incrível que pareça, não constam.
Por tudo isso, não tenho a menor condição de fechar as
portas. Estou saindo por minha própria vontade, é verdade. Mas deixo a porta
escancarada (e ainda levo uma chave de garantia) para a ter a certeza de que
posso voltar.
Depois de 5 anos
transformadores, 152 textos de quinta, um livro delicioso, encontros
memoráveis e amigos especialíssimos, eu, que passava tempos trabalhando numa
frase para não ter que recorrer a clichês, terei de sucumbir a eles justo na derradeira: gratidão e até breve, Crônica do Dia.
Comentários
Um beijo!
Eu já deveria estar acostumado a tantas despedidas no Crônica do Dia, mas não estou. :(
Só tenho a agradecer pela beleza e graciosidade de suas tantas palavras durante tanto tempo. As portas estarão sempre abertas. :)
E agora José? E agora Eduardo?? O que vai ser de nós sem ela!!??