CELIBATO >> Sergio Geia
Eu não chego ao ponto de estabelecer
uma relação lógica entre os casos de pedofilia praticados por sacerdotes e
bispos da Igreja Católica e o celibato. Acho que não é o caso. Também não
comungo da mesma opinião do Leonardo Boff, para quem o escândalo da pedofilia
seria um sinal de Deus tentando dizer que é hora de a Igreja abolir o celibato
imposto por lei eclesiástica.
Sinceramente? Acho que a exigência de
abstinência sexual é uma regra que violenta o ser humano. Você não pode
simplesmente mudar a natureza de uma pessoa. Deus, ou quem quer que seja, nos inventou
com um órgão sexual no meio das pernas. Não foi pra ele ficar inativo, morto. Ele
tem que funcionar. Ninguém muda a natureza. É impossível. Uma hora ou outra ela
fala mais alto, e aí eu tenho uma bomba-relógio. Por mais que conscientemente o
indivíduo opte pela vida celibatária e pela abstinência sexual, sua natureza
humana em determinado momento vai gritar, pedir, reclamar.
Segundo estudos de psicologia, ainda
citando Boff, o homem só amadurece sob o olhar de uma mulher. A mulher só
amadurece sob o olhar de um homem. Homem e mulher são recíprocos e
complementares. Quer dizer com isso que um sacerdote não consegue atingir a
maturidade, no sentido sexual, quando não tem uma mulher ao seu lado. Uma
companheira. Sempre me perguntaram como um padre pode dar conselho para o casal
se não entende patavinas de casamento, sexo, relação a dois. E não entende
mesmo.
Dizem os teólogos e padres que o xis da
questão, fundamento maior da sustentação da prática, é que o próprio Cristo, em
sua vida missionária, não deixou a natureza falar. Foi celibatário. Nada mais
falso. Não o Cristo, imagina. O argumento. A Igreja Católica admite padres
casados. Não só as Igrejas Católicas do Oriente os aceitam, mas também, no ano
de 2009, o papa aposentado Bento XVI baixou uma provisão aceitando dissidentes
anglicanos casados que quisessem optar pelo catolicismo. A Igreja Anglicana,
aliás, que se mostra muito mais antenada com as novas gerações, com o
pensamento progressista e com as próprias ciências humanas, ao aceitar sacerdotes
gays e mulheres, e ao apoiar métodos de controle de natalidade.
É com bons olhos, portanto, que assistimos
à Igreja Católica, sob a batuta desse argentino chegado num futebolzinho, se
arejando, respirando novos ares, deixando o atraso no vestiário. Aceitar os
gays sob o argumento de que eles podem oferecer boas coisas à igreja é um
grande passo para uma instituição apegada num moralismo tacanho. Aceitar casais
em segundas núpcias é outro. A pílula (cristãos não devem se reproduzir como
coelhos, lembra?). E por que não aceitar mulheres sacerdotes? Ou padres
casados?
Tenho amigos padres que deixaram a
igreja pelo amor de uma mulher. Quer coisa mais abençoada que amar? Tenho
certeza que Deus não faz distinção entre padres celibatários e padres casados.
Isso é coisa que vem do homem mesquinho, arrogante, presunçoso, prepotente,
ambicioso. Esse é o grande problema: regras que não nasceram de Deus, mas nasceram
do homem. O sagrado contaminado pela dimensão mais podre da essência humana. Esses
amigos, valiosos homens, que se renderam ao amor de uma mulher, teriam muito
ainda a oferecer em prol da igreja. Perdeu ela. Perdemos nós.
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