COTIDIANO >> whisner fraga



nina plantada ao lado esquerdo, perto do meu rosto, benê em minhas costas, clarice cavoucando debaixo do travesseiro, afinal é quinta, cinco da manhã,

e quinta eu acordo mais cedo, quarta também, terça, então o ritual é esse e, quando não acontece, fico preocupado, arisco,

as gatas têm esse relógio preciso, até abandonei o despertador do celular, porque elas não erram,

bom que não preciso mais dessa vigilância eletrônica,

ainda em estado de sono, cambaleando até o banheiro, tropeço em uma e outra: ainda aí?, mas elas estão em estado de meia e se enroscam em meu pé,

esperam que eu vá até a sacada, que lhes dê uma ração nova, porque a outra provavelmente murchou e elas aprenderam o paladar refinado, embora comam o sofá, as lombadas dos livros e, se deixar, algum vinil,

vou até a sacada, renovo a ração, a água, às vezes, e o dia ainda está ameaçando vencer a trégua, quando apagam a luz, lá fora, todos prestes ao trabalho, porque a engrenagem, mesmo enferrujada e sem lubrificação, precisa rodar,

primeiro o chá de camomila, uma breve excursão pelas manchetes e é hora de me preparar,

clarice fareja uma fuga, vem ao colo, ajeita a cabeça debaixo de minha mão: chantagem,

mas é preciso ir, o mundo depende disso.


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imagem: pixabay, sem necessidade de créditos.

Comentários

André Ferrer disse…
De manhã, são os bichinhos que distribuem as senhas. Abraços.

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