A NOVIDADE >> Sergio Geia
Era uma quarta-feira triste e banal.
O sol já aparecera tímido às primeiras horas, havia uma corrente de vento tão fria que era quase um tapa, havia silêncio, incomum diante do vai e vem de carros e gente apressados; a manhã era estranha.
Quando parei e meus olhos bateram na fachada bela, senti algo esquisito, um aperto no peito acompanhado de sensação ruim embora estivesse decidido, afinal, se antes a fruta era verde, agora estava madura; se eu demorasse mais, talvez a perdesse.
Apertei a campainha e aguardei. Ao meu lado, um tio, velho tio, companheiro de todas as horas, especialmente as difíceis, esses momentos que a vida nos entrega, em contraponto às alegrias mundanas.
Entramos, respirei um ar puro, bom, fino.
Ouvi atentamente a explanação, depois corremos a casa toda pra conhecer o ambiente. Sala ampla, cozinha com cheirinho de comida no fogão, o quarto com a janela lateral, o banheiro, a ampla sala de tevê, o quintal ajardinado, a promessa de uma festa junina, quem sabe, bastante animada, assim que possível, tudo limpo, muito limpo, organizado, novo.
Numa poltrona um sujeito dormia enrolado num cobertor; na outra, uma mulher assistia à televisão; uma outra passeava cantando pela casa.
Ajustamos detalhes, informações adicionais, preço, papéis, estava decidido.
Quando fecharam a porta e avancei de volta pela calçada, um sentimento bom tomou-me por si, algo me dizendo que o caminho estava traçado, e o caminho era florido e bom.
Num outro dia, dei-lhe a notícia:
— Uma casa nova, maior, mais bonita, com amigos e amigas, e mais gente a cuidar de você.
Ela me olhou nos olhos, fundo, meu coração apertou, então respondeu:
— Ah, que delícia! — e sorriu. — Adorei! Quando nós vamos mudar? — seus olhos até se encheram de água tamanha a alegria, depois ela voltou para o seu mundo.
No dia seguinte não lembrará mais da novidade.
No derradeiro, será uma surpresa.
Comentários
Força aí, amigo!
Continue nos presenteando com o que faz e o faz muito bem .
Abraços!!!
Sylvia Testa Braga .