A PRIMAVERA >> Sergio Geia
Hoje
pensei em escrever sobre ela. Lembra aquela música do Beto Guedes:
“Quando entrar setembro, e a boa nova andar nos campos”? Ela me é
tão inspiradora, ainda que setembro já esteja quase no fim.
Desci
para tomar café na Tábua de Frios, e aproveitei para olhar árvores
(sabia que o Brasil é o país mais arbóreo do mundo? Ouvi isso
outro dia no rádio), da Professor Moreira à Santa Teresinha; queria
encontrar alguma coisa, um toque primaveril a me inspirar. Fiquei
olhando pessoas para encontrar uma alegria diferente, quem sabe um
brilho nos olhos, até a mulher que se esqueceu de pagar a água no
caixa eu perscrutei, ou a senhorinha de cabelos de algodão com seu
cão que encontrei na calçada.
Depois,
já em casa, escovei os dentes, e fui à sacada em busca de sinais,
uma flor se abrindo, orquídeas, por exemplo. Dizem que aparecem
folhas novas na acerola, ou na laranjinha do mato, mas não há
acerolas e laranjinhas do mato por aqui. Brotos, talvez. A despedida
do inverno, a secura triste indo embora, o cinza da manhã dando
lugar ao azul recém-inaugurado.
Mas
como eu queria.
Encharcar
de poesia e colorido este Crônica do Dia de hoje, afinal, primavera
é primavera, tempo de renovação (dizem), de luz e calor, de cor e
perfume. Examinei a Mantiqueira que se insinua para mim, tentei uma
luz diferente. Agucei ouvidos em busca de cantos novos, um bem-te-vi,
quem sabe. Fotografei ipês na JK.
Nem
luz, sol, cor, como falam por aí. Nem alegria, paixão, tesão,
renovação eu encontrei, a mesmice de sempre (aliás, o centro da
cidade hoje estava um horror de tanta gente; depois dizem que
brasileiro não tem dinheiro). Nem amor, calor, humor, nem um certo
desespero em flor, como na canção.
Talvez
sejam os meus olhos despreparados, o coração cerrado. Talvez
precise de uma Ananda Apple a me ensinar.
Dizem
que a tal chega ainda hoje.
Por
ora, pelo menos aqui, sem sinais.
P.S.:
Ok, ok. Para espantar o mau humor, que tal essa lindeza do Zé Miguel
Wisnik?
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