CAIO >> Sergio Geia
Beber dessa bebida amarga (e doce ao mesmo tempo). Entrevistas,
YouTube, crônicas, contos, romances,
biografias, Caio, Caio, Caio.
Vítima dessa AIDS que levou, além dele, outros gênios como Cazuza, Renato Russo, Betinho (e tantos outros), todos contemporâneos seus, Caio nos deixou muito cedo. Por conta dessa morte prematura, à exceção de sua literatura, há pouca coisa, principalmente na internet, sobre ele.
Vítima dessa AIDS que levou, além dele, outros gênios como Cazuza, Renato Russo, Betinho (e tantos outros), todos contemporâneos seus, Caio nos deixou muito cedo. Por conta dessa morte prematura, à exceção de sua literatura, há pouca coisa, principalmente na internet, sobre ele.
Não lembro como
tudo começou. O que lembro, é que sempre tive na mira o “Morangos Mofados”, seu
livro de maior sucesso. Também não lembro o motivo pelo qual eu o tinha na
mira. Não sei se alguém falou bem do livro — aquele papo de “Nossa, esse livro
mudou a minha vida!”, ou “Nossa, aquele disco de fulano de tal mudou a minha
vida!” —, talvez alguém tenha dito “Nossa, o ‘Morangos’ do Caio Fernando Abreu
mudou a minha vida!”, afinal, “Morangos Mofados” e “Feliz Ano Velho” marcaram
uma geração. O que sei é que nenhum livro mudou a minha vida. Nenhum disco. Nenhum
filme. O que me ocorre agora é que, talvez, tenha sido o título do livro que
tenha me chamado a ele. Os títulos sempre me chamam. “Olhai os lírios do campo”
me chamou. Lembro que um dia, entrei no Submarino e comprei “Morangos Mofados”.
Desde então, respiro Caio (respiro do ponto de vista intelectual e artístico, é
óbvio; mas como gostaria de ter respirado o mesmo ar de Caio; poderia ter sido
no Ritz?), e “Morangos Mofados” virou o meu livro de cabeceira, quem sabe, candidatíssimo
a mudar a minha vida.
Neste
momento leio “Para sempre teu, Caio F.”, da Paula Dip, que foi colega de
trabalho e amicíssima de Caio. É uma biografia, e como toda biografia, me
oferece um mergulho na vida do autor. Conhecer a sua infância, a sua vida antes
de se tornar o escritor famoso, a visão que os amigos tinham antes dele se
tornar o escritor famoso, hábitos, preferências, personalidade. Está recheado
de passagens da sua vida (claro), cartas — Caio adorava escrever cartas —, bilhetes,
textos, crônicas, fotos, os bastidores de diversos contos, inclusive dos “Morangos”,
a vida a mil, visceral, muito Caio, sem medo de ser infeliz.
Outro dia
estava lendo a crônica “Ao momento presente” que está no livro “Pequenas
Epifanias”, da Editora Nova Fronteira, em que Caio reverencia esse momento
esquecido. Depois li “Lições para pentear pensamentos matinais” (Caio era ótimo
para escolher o título dos seus textos), depois “O livro da minha vida”, e depois
“A cidade dos entretons”. Adorei “Quando setembro vier”. E que sacada! Depois
pensei: “Esse Caio é realmente fascinante!”
Inimigo
dessas de preservar estabilidades, absolutamente aberto ao mundo, a tudo e a
todos, Caio é uma fonte inesgotável de ser. Intensidade plena. Luz e Sombra.
Dia e noite. Medo é uma palavra que não existe no seu dicionário. Sofrimento, amargura,
depressão, angústia, agonia, fracasso, constrangimento, até broxadas, foras, furadas
monumentais. Isso é vida, e Caio não tem medo dela. Abrir mão dessas coisas é
abrir mão da própria existência.
Lembro que algum
tempo depois de lançar o meu romance, uma querida ligou dizendo que tinha
gostado da história e, principalmente, dos personagens, que não tiveram medo,
segundo ela, de fazer escolhas que significaram, no universo ficcional da obra,
uma guinada de 360 graus, ainda que tais escolhas significassem também
problemas. Disse que se arrependia de suas escolhas. Diferentemente dos
personagens do livro, a leitura a fez entender que sua opção fora sempre a
opção do conforto, do controle absoluto, do medo do novo, do não-viver, do
não-arriscar. Uma escolha, digamos, não-Caio, não-vida.
Esse
sentimento traduzido no livro eu senti anos atrás, tanto que mal ou bem,
consegui transportá-lo para os personagens, de modo a fazer com que eles fossem
diferentes do que eu tinha sido até então. Não tenho dúvidas de que gostaria de
ter a personalidade marcante do padre-narrador.
Sinto que Caio
vem dar um refinamento a esse sentimento.
P.S.: Um amigo me falou coisas: “que os problemas vão se acalmar com o fim do período de retrógrado”, “que o Sol estará em Virgem, enquanto a Lua estará em Peixes”, “que ouviremos boas notícias sobre conquistas sociais, econômicas, culturais, humanas e espirituais”. Lembrei-me na hora de outra das muitas facetas do Caio.
“Nossa, como
você hoje está Caio Fernando Abreu!”, respondi.
E arrematei:
“Com Sol em
Virgem e ascendente em Libra”.
Momento
Caio.
Total.
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