CASO ENCONTRE UM LOUCO, CORRA >> André Ferrer
Fecharam-se os
manicômios e gerações de loucos foram jogados no mundo. A família e a
sociedade, ainda que despreparados técnica e emocionalmente, passaram a arcar
com as consequências.
Os manicômios, de
fato, constituíam uma calamidade, mas a alternativa escolhida foi, no mínimo,
irresponsável. Em vez de modernizar o modelo de confinamento (que, a cada dia,
prova-se necessário), adotou-se a solução mais fácil: cada qual que cuide do
seu próprio louco domesticamente. Quando muito, em visitas a um Centro
Psicossocial.
O modelo de
assistência oferecido pelo poder público é remoto. Foi pensado para situações
controláveis e nunca para tratar verdadeiras bombas-relógio. Tudo indica,
ainda, que não está aberto para mudanças e concessões.
Casos como o do
incendiário da creche deveriam provocar uma discussão nacional, mas um tiroteio
em Las Vegas encanta muito mais a opinião pública do que uma carnificina em
Janaúba. Deveria, no mínimo, levantar questões do tipo: será “mesmo” que os
nossos velhos "depósitos de gente" eram, de todo, ruins? Será que uma
reestruturação do modelo não diminuiria, pelo menos, a presença de potenciais
incineradores de crianças aqui fora?
Anos atrás, um
desses loucos entrou numa livraria, em plena Avenida Paulista e escolheu alguém
sem motivo algum. Sorrateiro, aproximou-se de um homem que, tranquila e distraidamente,
escolhia um livro.
O desequilibrado
trazia um taco de basebol escondido na mochila (onde encontraram um facão logo em
seguida). O golpe foi no alto da cabeça. Depois de meses numa UTI, a vítima
faleceu.
Quando eu soube do
ocorrido na creche mineira, lembrei-me do caso da Livraria Cultura. Pessoas
doentes, famílias despreparadas ou relapsas, o Estado e a sua incapacidade
irreversível. Oremos fervorosamente por Las Vegas.
Comentários
E os loucos parecem cada vez mais soltos agora, com ou sem máscaras. Mais sem, talvez! E nem mesmo uma pandemia deu rumo a essa trágica e louca humanidade.
Não há portas que parece segurar mais os ditos racionais. Se há, está deixando passar muita poeira...
Parabéns, André! Muitíssimo bom o seu texto.