MÁGUINO III >> Albir José Inácio da Silva
(Continuação de 31/10/16 – Enquanto
tentava convencer Pedrada a lhe conceder mais uma ligação para os Labac, Máguino
lembrou da vida difícil como motorista, da demissão, do trabalho duro para
recomeçar a vida e, claro, do convite dos ex-patrões, que lhe pareceu a
redenção depois de tanto sofrimento. A voz do mensageiro soou como música nos ouvidos).
Sorriu lisonjeado. Primeiro
porque não o esqueceram como chegou a pensar. E depois, teria o prazer de não
aceitar de volta o emprego porque agora era empresário e os negócios iam muito
bem, obrigado. Mas apressou-se em atender porque não se deixa pessoas tão
distintas esperando.
Mas a alegria estava só
começando. Indescritível a sensação de voltar àquele lugar, em que tantas vezes
foi humilhado, vestindo roupas de marca, sapato engraxado e usando um relógio
igualzinho ao do Dr. Simão
.
Cumprimentou benevolente o
porteiro e os funcionários que ia encontrando pelos corredores até as salas da
diretoria. Os antigos colegas o olhavam com quase reverência. Ele conseguiu.
Bem que dizia, em meios aos esforços pra agradar os patrões, que aquela vida
não era para ele. Aí estava. Voltava agora como amigo, como celebridade,
respeitado pelos ex-colegas e festejado pelos donos. Mas o que o trazia ali?
- Café ou champagne? – perguntou
o Dr. Simão, depois de falar da alegria de tê-lo de volta àquela casa, da sua lealdade
no tempo de empregado e do sucesso que, ouviu dizer, Máguino experimentava nos
seus negócios.
- Eu vou de champagne, – disse o
Dr. Pedro – é tempo de comemoração!
- Queremos falar de negócios,
Máguino, de sua participação num contrato nosso que, além de capitalizar sua
empresa, ainda pode incluí-lo definitivamente no seleto clube dos bem-sucedidos
– acrescentou o Dr. Simão.
- Dr. Simão, tenho me dedicado
muito, mas meus negócios são ainda em pequena escala, não sei se estou à altura
de...
- Sabemos nós, Máguino! Não
escolhemos você à toa. Sobram interessados em participar de nossos
empreendimentos, mas era uma questão de reconhecimento. Jamais esquecemos sua
lealdade.
- Bem, eu fico lisonjeado, mas
...
- Não se preocupe, Máguino, já
providenciamos tudo. Pode se dirigir agora mesmo para o Porto do Rio de Janeiro.
Saiba que atrás de atrás de você tem uma estrutura eficiente.
Não houve de fato qualquer
dificuldade. Máguino estranhou que os documentos estivessem todos em seu nome, já
que conversou com os Labac há poucos minutos. Mas é assim mesmo o mundo
informatizado, precisava se acostumar.
Assinou umas notas e foi pra
casa, feliz por participar de negócios com aquela gente e pelo dinheiro que era
muito bem-vindo. Dinheiro mesmo, estranhou, nem cheque nem depósito. O mundo,
de vez em quando, corrigia umas injustiças.
A PRISÃO
Sonhava Máguino em sua residência
com novos negócios com os Labac quando a polícia federal chegou. Não ouviu
direito a leitura do mandado, mas sabe que tinha receptação, contrabando,
descaminho e outras coisas de que nunca ouviu falar.
Era um mal-entendido, tentou
dizer, mas foi algemado e colocado na caçamba para desespero de Jacira e
regozijo dos vizinhos invejosos - ou que tinham sido ludibriados na construção
da birosca.
E aqui está o Máguino, sob a
vigilância benevolente do Pedrada, tentando ligar para o Dr. Simão. Àquela altura
o policial já desconfiava da possibilidade de aquela bondade render alguma
coisa, mas gostava de ser bom às vezes e começava a sentir alguma pena do
Máguino.
- Interrompa a reunião! É urgente!
É caso de vida ou morte! – vociferava Máguino para a secretária do Dr. Simão.
- Mas o Dr. Pedro já falou com o
senhor hoje. O que mais o senhor quer?
Percebendo que estava perdido,
Máguino mudou de estratégia.
- Diga-lhes, então, que contarei a
verdade: de quem é a mercadoria, quem me contratou, quem fez o transporte e com
quem está a carga. Acho melhor me ajudarem a esclarecer logo essa situação!
O telefone foi desligado do outro
lado da linha, a solidão desceu sobre o nosso empreendedor, e ele pensou na sua
Jacira.
(Continua em 15 dias)
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