O ZEITGEIST PIROU >> Mariana Scherma
Esses
meus últimos dias têm sido turbulentos. Tudo me afeta loucamente. Um pepininho
vira um pepinão, que desencadeia mais outros minipepinos. Vou resumir: na minha
infância, o Sérgio Mallandro tinha um programa com um quadro chamado Porta dos
Desesperados. Às vezes, saiam coisas boas. Às vezes, só saia mesmo um homem
fantasiado de gorila enlouquecido. Digamos que todo dia eu abro essa porta e
todo dia vem o homem-gorila. Aí um dia eu vi uns cabelos brancos e surtei. Ando
estressada demais, um fato.
Conversando
com uma amiga, ela também anda encarando demais o gorila. Minha vizinha e sua
filha, idem. Outras amigas também. Meu namorado foi assaltado. E olhando de uma
forma mais macro, o brasileiro anda recebendo muita visita do gorilão (ou você
acha que aumentar a jornada de trabalho para 12 horas vai sanar a crise?
Hmpf...). É como se o mundo estivesse surtado. Na aula de filosofia/história,
falamos de zeitgeist. A impressão que eu tenho é que o zeitgeist pirou e se
recusa a ir ao psiquiatra. O zeitgeist está pior que o gorila da Porta dos
Desesperados.
Já
ouvi trezentas vezes que não devemos deixar os problemas nos afetarem tanto,
mas e quando o sangue ferve? Meu sangue anda em plena ebulição e as pessoas
parecem ter perdido a noção das coisas. Quando você não sabe dos afazeres do
outro, não julgue a velocidade com que ele realiza as atividades. Todo mundo,
antes da crítica, deveria fazer o exercício sábio de se colocar no lugar do
outro. O chefe no lugar do funcionário e vice-versa. O político no lugar do
cidadão que lhe deu o voto. Seria mais humano viver.
Para
essa semana, eu vou deixar de ser esponja de problema. Vou seguir fazendo o meu
melhor, mas não vou levar problema de um lugar para o outro. Quando a gente
transfere os problemas de lugar, eles devem procriar e deixar o zeitgeist
doidão. Se abrir uma porta e o gorilão sair correndo, vou correr com ele em vez
de gritar de susto. Ou vou tirá-lo pra dançar. Quando ver todo mundo
reclamando, vou me esforçar pra contar uma piada e fazer o zeitgeist ficar
menos cruel. Quem sabe funciona?
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