LEVEZA E SIMPLICIDADE >> Sergio Geia
Isto não é uma crônica. É um desabafo.
Não vou de terceira pessoa pra me esconder do mundo. Pelo contrário, vou de
primeira mesmo. Não quero dar lição de moral, nem produzir uma cartilha, muito
menos ensinar alguma coisa. Não quero ensinar nada de nada pra ninguém. Aliás,
quem sou eu pra ensinar? Quero apenas desabafar, botar pra fora o caroço, um
troço que me incomoda. Se você não tá a fim de escutar, aproveite a deixa. Mas,
se vai comigo, prometo que vou azeitá-lo com um pouco de humor.
O que tá pegando, amigo, é que tão
levando a vida muito a sério. Sério! Perdeu-se a leveza do ser, o humor, o jeito
moleque de ver as coisas. Estão todos muito armados, com o espírito em constante
alerta, carregando uma verdadeira Scania do famigerado politicamente correto nas
costas. Tudo bem, precisamos ser corretos, honestos, fazer o melhor, mas também
não precisa exagerar, né?
No Facebook, vejo lá que dois amigos
estão “em relacionamento sério”. Relacionamento
sério não pode ser bom! O bom, o que vale a pena, que acrescenta, que emociona,
que nos faz sentir vivos nesta vida de deus-dará é qualquer relacionamento afetivo,
seja hétero, homo, poli, rotulado ou não, menos um relacionamento sério. Amem
sim, mas deixem a seriedade de lado. Tá, tá bom, eu sei o que é relacionamento
sério, eu não poderia era perder a piada. Mas não seria melhor dizer
“namorando”?
Até aquilo que era pura diversão anda sério
demais. O futebol. Neymar dá uma carretilha, sofre falta, os jogadores do
Atlético ficam de biquinho e talvez, numa inveja brutal da técnica do brasileiro,
partem pra cima, e o juiz, outro infeliz da vida, não só marca falta contra o
Neymar (em vez de a favor), como lhe dá o cartão amarelo!? Se os caras não
sabem jogar, que vão todos pro chuveiro! O lance foi lindo. É por isso que o
futebol tá virando um sonífero. O Garrincha não poderia jogar nesses tempos.
Essa seriedade contemporânea contaminou
também o cinema. Falaram tanto do Cinquenta Tons que eu tô pra ver filme mais
careta. Até pelo que venderam. O “Felizes para sempre” tava muito mais animado,
mais interessante, eu diria.
Sério, gente, essa seriedade
generalizada tá fazendo mal pro mundo; tá tornando as pessoas muito chatas. Essas
pessoas ficam patrulhando tudo, sejam humorísticos, comerciais, peças, imagens,
opiniões, opções sexuais, religião, estilos, jeito de ser. Vamos hastear a
bandeira do leve, vamos ter um olhar mais suave para a vida. Ele está muito
pesado.
Outro dia puxei papo com uma
desconhecida num ponto de ônibus, e senti que ela tava achando que eu a estava
cantando. Eu não estava. Apenas puxei papo pra passar o tempo, para tornar
aqueles minutos de espera mais agradáveis. É tão absurdo assim um homem e uma
mulher que não se conhecem conversarem num ponto de ônibus sobre algum assunto
que não seja “esfriou, né?”, ou “essas mudanças no trânsito...”? As pessoas se
fecham. Mesmo no Facebook, as pessoas só adicionam quem conhecem. Não se abrem
para o novo, para o desconhecido.
Eu decidi que minha vida deve se
ancorar em dois estados capitaneados por duas palavrinhas mágicas: leveza e
simplicidade. É isso que eu quero pra mim. Ah, e no Facebook, conhecendo ou
não, sempre adiciono quem me faz uma solicitação. Se lá na frente o amigo é uma
furada eu bloqueio. Simples assim.
Ilustração: Donald Zolan
Comentários
Gostei muito desta crônica.