O QUE QUER QUE EU FAÇA >> Eduardo Loureiro Jr.
As pessoas ficam com raiva de mim porque eu não faço o que elas querem que eu faça. E eu as compreendo. Eu também faço a mesma coisa. Eu também fico com raiva de mim porque não faço as coisas que eu mesmo quero que eu faça.
Fico com raiva de mim porque não acordo às 5 da manhã. Eu gostaria que eu mesmo saísse de casa ainda no escuro, fosse até a praia e observasse o nascer do sol. Eu tenho raiva de acordar muito depois de o sol ter nascido e de não ter coragem nem de sair da rede. Tenho raiva de ficar me espreguiçando. Tenho raiva daquele pensamento quase diário: "Mais um dia? Que saco!"
Tenho raiva de mim porque não medito ainda de manhã, antes de qualquer trabalho ou contato social. Sei que é bom para mim, sei que me trará um dia mais positivo, mas não faço. Prefiro ligar logo o computador ou o celular.
Tenho raiva por não cozinhar algo mais saudável para almoçar. É sempre o mesmo macarrão com molho de tomate, creme de leite, atum, orégano e alcaparras. Eu poderia aprender a fazer alimentos deliciosos e saudáveis, mas sempre repito a mesma coisa.
Eu me odeio por ter 44 anos, quase 45, e ainda não ter uma profissão definida. Sou professor. Sou astrólogo. Sou facilitador de Pathwork. Sou escritor. Mas não sou nada disso. Não tenho vínculo, não tenho estabilidade, não tenho constância. E não estou falando apenas de questões burocráticas, institucionais. Não tenho sequer constância interna. Passo um ano sendo professor mais intensamente, e me dá vontade de passar dois anos de férias.
Também sou zangado comigo mesmo por não andar de bicicleta todo dia. Eu tenho uma bicicleta. Em minha cidade, há um sistema de bicicletas compartilhadas. Mas só ando de bicicleta uma vez por semana. Sei o bem que me faz, sinto meu corpo exultar de alegria cada vez que ando de bicicleta, mas não pedalo diariamente.
Sexo então? Tenho vontade de me espancar quando penso em minha atividade sexual. Faço cocô duas vezes por dias, três até, mas fazer sexo duas vezes por semana é uma meta difícil de ser cumprida. Sei que deveria: faz bem para mim, para a parceira, para a relação, para o planeta, para a camada de ozônio, mas para mim é um esforço excruciante.
Me odeio também pela minha comunicação com parentes e amigos. Tenho muitas e muitas pessoas que amo do fundo do meu coração, mas cadê que ligo para elas? Não falo com minha mãe diariamente, falo pouquíssimo com meu pai, converso quase nada com minha sobrinha mais velha, sei de minhas irmãs bem menos do que gostaria, praticamente não brinco com meus sobrinhos mais novos, encontro com os internos do pátio e do peito no máximo uma vez por mês, faço contato com a maioria dos meus amigos uma única vez por ano (e a maioria por escrito, no dia do aniversário). Sou o mais desprezível parente/amigo que conheço.
Quanto ao peso, eu poderia pelo menos sair da zona de sobrepeso e chegar aos 72kg. Mas não, eu insisto em brownies, leite condensado com Nescau, milk shake, coxinhas, baldes de pipoca e outras guloseimas farinhadas e açucaradas.
A lista é longa, longuíssima. Não quero aborrecer o leitor, que queria que eu escrevesse uma crônica leve, breve e bonita. Então menciono um último objeto de raiva de mim mesmo...
Eu gostaria muito de ser como as pessoas que têm raiva de mim. Porque, até onde posso ver, são pessoas que conseguem fazer com que elas mesmas façam aquilo que elas acham que deveriam fazer. Deve ser irritante para as pessoas que fazem o que querem, que têm sucesso em tudo que determinam para si mesmas, ter de conviver com uma pessoa como eu, que não dá conta de fazer nem o que quer, quanto mais de fazer aquilo que as outras pessoas querem que eu faça.
Eu sou um estorvo para mim mesmo. Um estorvo para os outros. Um estorvo para você, caro leitor, que acabou de ler uma crônica desagradável. Você pode me odiar por isso. Eu também me odeio por isso. O que quer que eu faça? O que quer que eu faça não é tão bom quanto aquilo que eu deveria estar fazendo.
Fico com raiva de mim porque não acordo às 5 da manhã. Eu gostaria que eu mesmo saísse de casa ainda no escuro, fosse até a praia e observasse o nascer do sol. Eu tenho raiva de acordar muito depois de o sol ter nascido e de não ter coragem nem de sair da rede. Tenho raiva de ficar me espreguiçando. Tenho raiva daquele pensamento quase diário: "Mais um dia? Que saco!"
Tenho raiva de mim porque não medito ainda de manhã, antes de qualquer trabalho ou contato social. Sei que é bom para mim, sei que me trará um dia mais positivo, mas não faço. Prefiro ligar logo o computador ou o celular.
Tenho raiva por não cozinhar algo mais saudável para almoçar. É sempre o mesmo macarrão com molho de tomate, creme de leite, atum, orégano e alcaparras. Eu poderia aprender a fazer alimentos deliciosos e saudáveis, mas sempre repito a mesma coisa.
Eu me odeio por ter 44 anos, quase 45, e ainda não ter uma profissão definida. Sou professor. Sou astrólogo. Sou facilitador de Pathwork. Sou escritor. Mas não sou nada disso. Não tenho vínculo, não tenho estabilidade, não tenho constância. E não estou falando apenas de questões burocráticas, institucionais. Não tenho sequer constância interna. Passo um ano sendo professor mais intensamente, e me dá vontade de passar dois anos de férias.
Também sou zangado comigo mesmo por não andar de bicicleta todo dia. Eu tenho uma bicicleta. Em minha cidade, há um sistema de bicicletas compartilhadas. Mas só ando de bicicleta uma vez por semana. Sei o bem que me faz, sinto meu corpo exultar de alegria cada vez que ando de bicicleta, mas não pedalo diariamente.
Sexo então? Tenho vontade de me espancar quando penso em minha atividade sexual. Faço cocô duas vezes por dias, três até, mas fazer sexo duas vezes por semana é uma meta difícil de ser cumprida. Sei que deveria: faz bem para mim, para a parceira, para a relação, para o planeta, para a camada de ozônio, mas para mim é um esforço excruciante.
Me odeio também pela minha comunicação com parentes e amigos. Tenho muitas e muitas pessoas que amo do fundo do meu coração, mas cadê que ligo para elas? Não falo com minha mãe diariamente, falo pouquíssimo com meu pai, converso quase nada com minha sobrinha mais velha, sei de minhas irmãs bem menos do que gostaria, praticamente não brinco com meus sobrinhos mais novos, encontro com os internos do pátio e do peito no máximo uma vez por mês, faço contato com a maioria dos meus amigos uma única vez por ano (e a maioria por escrito, no dia do aniversário). Sou o mais desprezível parente/amigo que conheço.
Quanto ao peso, eu poderia pelo menos sair da zona de sobrepeso e chegar aos 72kg. Mas não, eu insisto em brownies, leite condensado com Nescau, milk shake, coxinhas, baldes de pipoca e outras guloseimas farinhadas e açucaradas.
A lista é longa, longuíssima. Não quero aborrecer o leitor, que queria que eu escrevesse uma crônica leve, breve e bonita. Então menciono um último objeto de raiva de mim mesmo...
Eu gostaria muito de ser como as pessoas que têm raiva de mim. Porque, até onde posso ver, são pessoas que conseguem fazer com que elas mesmas façam aquilo que elas acham que deveriam fazer. Deve ser irritante para as pessoas que fazem o que querem, que têm sucesso em tudo que determinam para si mesmas, ter de conviver com uma pessoa como eu, que não dá conta de fazer nem o que quer, quanto mais de fazer aquilo que as outras pessoas querem que eu faça.
Eu sou um estorvo para mim mesmo. Um estorvo para os outros. Um estorvo para você, caro leitor, que acabou de ler uma crônica desagradável. Você pode me odiar por isso. Eu também me odeio por isso. O que quer que eu faça? O que quer que eu faça não é tão bom quanto aquilo que eu deveria estar fazendo.
Comentários
Acho que assim teu leitor fica livre para te odiar, caso também se odeie. Ou se amar, caso te ame.
Encontrei muito de mim na sua crônica.
Eu a li três vezes e pensei:" esse cara sou eu!"
Muito boa mesmo!
Kênia, sou eu sim. :)
Grato.