DAIQUIRIS E MOJITOS >> Sergio Geia
Perguntei
como ele estava depois da bebedeira noite passada. Era um amigo não muito
acostumado ao álcool. Até me surpreendi quando ele aceitou tomar umas. Em
resposta, disse-me que acordou de madrugada com dor de cabeça e azia, ao que indaguei
se o mal não teria sido em razão dos espetinhos que ele devorou no fim da
noite. É... Pode ser...
Mas
a conversa banal me arrastou para o campo das bebidas. Coisa de quem não tem o
que fazer, sabe, numa noite fria de domingo. Resolvi até anotar tudo num papelzinho.
Quem sabe um dia não vira crônica, hein?
Cerveja/chope: sabe que desde muito cedo aprendi a
gostar. Coisa de família. Venho de uma que bebe pra diabo, e que sempre se
reunia pra bater papo, rir, comer e principalmente beber, é claro. Lembro-me de
uma vez, não sei quantos anos tinha, em que enchi a cara de cerveja, presunto e
abacaxi. Bebi tanto que saí falando castelhano. Mas prefiro chope. Bem tirado,
gelado, três dedos de espuma.
Vinho: veio depois da cerveja. Confesso que demorei
pra tomar gosto. A primeira vez foi ruim, mas o paladar aos poucos foi se
acostumando. Levava minha ex-mulher pra jantar num restaurante na Armando Sales.
Começamos juntos a apreciar. Bons tempos.
Cachaça: nunca gostei. Batidinha, só se
tivesse leite Moça. Pura então, nem pensar. Mas não é que de uma hora pra
outra, aquelas coisas que acontecem sem explicação, uma bicadinha aqui, outra
acolá, e ela começa a fazer parte da minha vida? Não me lembro muito bem como
tudo começou. Na verdade, sinto que venho mudando em algumas coisas. Alimentos de
que não gostava, por exemplo. Bacalhau, sobrecoxa de frango, berinjela e
mortadela. A cachaça entra nesse time.
Uísque: da cachaça para o uísque foi um
pulinho. Depois de estar consumindo cachaça regularmente, dei por mim dando uma
bicada no copo de uísque de uma amiga. E não é que ele desceu macio!?
Dizem
por aí que a bebida alcoólica pode ser um catalisador de genialidade, e que
grandes obras primas da literatura mundial não existiriam sem ela. O copo está
ou esteve presente em algum momento na mesa dos grandes escritores. F. Scott Fitzgerald, por exemplo, era
chegado num coquetel de gim, misturado com água e limão. William Faulkner gostava de uísque. Oscar Wilde, de absinto. Edgar Allan Poe, de
uísque e absinto. Hemingway apreciava daiquiris e mojitos. João Ubaldo
bebeu muito uísque até se tornar um abstêmio.
Pois
esse papo todo, amigo, me deu inspiração. Não, não, eu não vou acarinhar as
teclas do meu companheiro em busca de um bom texto, transformar as anotações do
papelzinho numa crônica sobre bebidas. Eu vou é tomar um uisquinho. Depois,
quem sabe... Tá servido?
Ilustração: Picasso, The absinthe
Comentários
O fecho então, ao falar dos daiquiris e mojitos, me transportei para o "La Bodeguita", em Havana, Cuba, onde pude me sentar na cadeira onde se sentava Ernest Hemingway para tomar estes drinques, seus preferidos e conversar com o garçom que o atendia. Foi um momento mágico em minha vida. Um abração pela relembrança que me possibilitou agora. Excelente.