EM UBATUBA >> Sergio Geia
Ligo a máquina. Vou para o e-mail. Branco
total. Cadê a senha? Procuro na memória. Nada. Tento uma. Outra. Clico em esqueci a senha. Digito o login, um
código. Aparece um lembrete: “VIDA”. Putz! VIDA!? O que eu quis dizer com VIDA?
Não me ajuda em nada. Vou tentando até que uma hora a ficha cai. Quer dizer, a
senha. Parada sinistra, mermão!
Digito: “Fala Beto! Beleza? Não sei o
que você tá aprontando, mas tudo bem. Aí vão algumas impressões sobre os dias
que passei em Ubatuba, como você me pediu. Veja lá, hein?” Pulo uma linha e
começo meu texto em formato de crônica.
A
serra continua a mesma, meu querido. Quem é de Ubatuba, São Luiz ou Taubaté, já
sabe. Mas quem não é se assusta. Oito quilômetros penosos, sem acostamento, curvas
fechadas, descidão em segunda ou em primeira marcha. Outro dia o Governo
duplicou a Tamoios. Quem sabe agora ele não olha pra nossa pobre Oswaldo Cruz.
Tá precisando.
Desci
a serra principalmente com a intenção de tomar banho de mar. Ah, um banho de
mar... Dizem que renova a vida. Pois é. E purga a casca, o que é muito bom. Fui
até a praia da Fazenda. Fica no Norte, quase chegando a Paraty. Conhece? Se
não, tá na hora. É nela e somente nela que eu consigo ouvir o mar, ler a poesia
que brota daquelas areias enfeitadas de sol. Não há barulho de cidade, nem
poluição. Há mar. Apenas mar.
Na
volta dei uma paradinha em Itamambuca, a praia do surf. Não sou surfista, bem
sabe; só parei pra comer um bolo. Não qualquer bolo, mas um belo de um bolo de
cenoura. Trata-se de uma vendinha que fica do lado direito da estrada que dá no
mar. Recomendo.
Recomendo
também as tainhas da Festa do Divino, da Paróquia Exaltação da Santa Cruz, lá na
Matriz. Faz anos que venho pra festa. O peixe, que se assa em churrasqueira, recebe
apenas sal grosso; acompanham arroz, farofa e maionese. Serve bem, o ambiente é
familiar. Durante semana a quermesse é boa. Pouca gente, sem confusão. Tem
doces, tem bolinho caipira. Dá pra comer tranquilamente, mas dia de semana!
Sabe
que andando pela orla estranhei a ausência do estimado Zé de Anchieta!? É que
próximo à feirinha tinha lá uma escultura dele escrevendo na areia. Está certo
que os vândalos não deixavam o pobre em paz. Quase sempre o encontrava com um
braço faltando, sem um dedo, ou mesmo com o pauzinho quebrado. Dizem que
Anchieta escreveu seu famoso “Poema à Virgem” naquelas areias da praia do
Cruzeiro. Você conhece o Poema à Virgem?
Numa
das manhãs encontrei um homem que se jogou ao mar carregando apenas prancha e
remo. Parei pra olhar. Essa visão não só daria
uma crônica, mas uma bela de uma crônica. Andei pesquisando. Dizem que se chama
stand up paddle. O esporte é sucesso no Rio. Ele
avançou, avançou, depois virou um risquinho.
Belas
imagens, amigo. Belos dias. Mas tive que interromper a farra antes da hora e voltar
a Taubaté, a fim de protocolar uns documentos importantes na Academia
Taubateana de Letras. Eles por lá estão recebendo novos acadêmicos, e eu, com
meus escritos, minhas crônicas e meu solitário “Confidências”, resolvi oferecer
o meu nome; quem sabe vir a integrar tão respeitada instituição. Quem sabe.
Anjão: é mais ou menos isso. Veja aí o
que vai aprontar, hein?
P.S.: mudaram Anchieta de lugar. Depois
que vi. Ele inteiraço numa fonte!
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