BRIGANDO COM O ESPAÇO >> Paulo Meireles Barguil
— Eu estou perdido? — indaga, para si mesmo, o passeante na Floresta Amazônica, que resolveu explorar, sem o auxílio de mateiro, os encantos desse templo natural.
— Eu estou perdido! — grita, desesperado, o aventureiro que brincou de deslizar nas areias dos Lençóis Maranhenses, sem se preocupar com o destino.
— Eu estou... perdido — constata, atônito, o turista em Veneza, apesar de ter seguido fielmente o mapa, estratégia que se revelou insuficiente para aquela catedral cultural.
Brincando com o espaço, por vezes, não percebemos o quanto ele é dinâmico, pois o tempo, seu fiel companheiro, nele atua silenciosamente, embora, às vezes, nem tanto...
Um dia, acordamos — ou então, numa noite, não conseguimos dormir — e somos sugados, numa velocidade superior à da luz, para o centro do nada, numa viagem que parece não ter fim...
E, então, constatamos que o nosso espaço não é tão nosso quanto acreditávamos.
O mais difícil é quando, devido à inexperiência, tentamos resistir e nos agarramos em paredes invisíveis, tornando a jornada ainda mais sinistra e dolorosa.
Só depois de várias consultas a oráculos, rezadeiras, astrólogos, guias espirituais e psicólogos é que podemos começar a desvendar os mistérios dessa epopeia singular.
A conquista do espaço, cantada pelos Engenheiros do Hawaii, é sempre em frente, embora essa mude, freneticamente, de lugar.
Sigo tentando decifrar o motivo de demorarmos tanto a viver, com todo o corpo, o que é entendido primeiro apenas com a mente.
Confesso: ainda tenho essa mania!
A desculpa de eu ser professor e querer partilhar o que imagino que aprendi é aceitável?
Cresce, tal como o desabrochar de uma flor, a minha desconfiança de que a razão, em muitas ocasiões, mais atrapalha do que ajuda, pois não consegue identificar e sair das armadilhas feitas por ela mesma...
Quero entoar, com todo o meu ser, a Canção da Estrada Aberta, de Walt Whitman:
"A partir desse momento, liberdade!
A partir desse momento eu me imponho vários limites e linhas imaginárias
Indo aonde quero, meu próprio mestre, total e absoluto
Ouvindo os outros e considerando o que eles dizem
Parando, procurando, recebendo, contemplando,
Suavemente, mas determinado, libertando-me das amarras que poderiam me deter
Eu inalo grandes quantidades de espaço
O leste e o oeste são meus, o norte e o sul me pertencem
Eu sou maior e melhor do que eu pensei
Eu não sabia que era detentor de tanta bondade
Tudo parece bonito pra mim
Eu posso repetir pra homens e mulheres: vocês fizeram tanto por mim, eu faria o mesmo por vocês
Eu me restabelecerei pra mim e pra vocês quando eu partir
Eu me espalharei entre homens e mulheres quando eu partir
Eu lançarei felicidade e dureza entre eles
Quem quer que me desminta não deverá me atrapalhar
Quem quer que me aceite, ele ou ela deverá ser abençoado, e deverá me abençoar."
A máxima "O Homem e a conquista dos espaços" — internos e externos — sintetiza o meu mergulho, refém e liberto do tempo e do espaço...
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