NÃO HÁ VAGAS >> Fernanda Pinho
Já vi gente dizendo sobre mim que sou uma pessoa com
facilidade para fazer amigos. Para ser bem sincera, eu não acho. O que também
dizem sobre mim, e isso sim procede, é que tenho sorte. Ocorre então que tive a
sorte de, ao longo da vida, me aproximar de pessoas com sérias intenções de
amizade sincera. E isso explica o considerável número de amigos de anos que
trago comigo.
Ok. Também não preciso ser tão modesta assim. Alguma parcela
de culpa eu tenho. Se a facilidade para fazer amigos não é dos meus maiores
talentos, certamente mantê-los está entre as coisas que sei fazer bem. Zelo
muito pelas minhas amizades. Procuro estar sempre presente — fisicamente ou
não, sou honesta em minhas relações, não dou margem para mal-entendido, não
meço esforços, não julgo, não minto, sou clara, tento ser compreensiva e estou
sempre à disposição. Nem sempre é fácil. Eu, e todos os meus amigos, temos uma
vida atribulada. Mas quem quer, dá um jeito. Acredito e pratico.
Entre meus melhores amigos, tem de tudo: gente que veio do
colégio, gente que veio da faculdade, gente que veio por causa de livros, gente
que veio por causa de blogs, gente que veio por causa de bandas, gente que veio
através de outros amigos. E já faz algum tempo que não vem ninguém mais. É importante
considerar o fato de eu não sair tanto quanto antigamente, não estar estudando
e trabalhar em casa. Isso minimiza em 90% a possibilidade de conhecer gente
nova. Mas o principal é que realmente não sinto vontade de fazer novos amigos.
Ou melhor, não sinto essa necessidade. Estou muito satisfeita com os meus, mas
não é só isso. É que é difícil.
Depois de uma certa idade (e nasceram mais 5 fios de cabelo
branco só por eu ter escritos essas cinco palavrinhas) nos tornamos tão mais
criteriosos. Não é como no começo dos anos 90 (quando fiz as primeiras amizades
que ainda tenho hoje), cujo o único critério de aproximação foi o fato de termos
caído na mesma sala. Agora, para uma pessoa entrar na minha vida ela precisa
ter muita afinidade comigo, ter muito a acrescentar e, principalmente, ser
muito tolerante com todas as minhas chatices e respeitar meu espaço.
O que é uma pena. Tenho amigas que, definitivamente, têm
estilos de vida e pensamentos superdiferentes dos meus. Se eu as conhecesse
hoje, dificilmente seríamos amigas. Mas nossa amizade foi cunhada quando não
éramos tão irritantes e irritáveis. Foi
plantada num terreno puro e livre de preconceitos. Por isso vingou. E por isso eu sei que são pessoas com quem
posso contar sempre, embora tão diferentes de mim.
Agora é mais complicado. As diferenças ocupam muito espaço e
minha agenda já está cheia. Meu tempo é curto. Minha paciência está no limite. Desaprendi
a pisar em ovos. Se, no entanto, a vida me surpreender e, apesar da minha
resistência, colocar uma nova amizade no meu caminho, prometo fazer o que eu
sei: mantê-la. Com o mesmo cuidado que mantenho meus bons e velhos.
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