ESPREME QUE DÁ TEMPO >> Fernanda Pinho
Minha vida está dividida entre durante e depois do
expediente. Não se trata de uma relação ambivalente, como eu sei que é para
algumas pessoas (aquelas que não toleram seu trabalho e aquelas que usam o
trabalho como uma fuga de tudo). Eu diria que é mais uma relação de mutualismo.
Eu gosto do meu trabalho e preciso dele para levar a vida que eu levo depois
das 18 horas. E quando não estou trabalhando eu faço coisas que, ainda que
indiretamente, me ajudam no meu trabalho me inspirando, agregando novos
conhecimentos ou simplesmente oxigenando minhas ideias.
O problema é que a cada dia eu gosto mais de mais um monte
de coisa, o que me leva a calcular meticulosamente cada minuto do meu tempo,
digamos, livre. Primeiro de tudo é preciso considerar que sou uma pessoa casada
e nos recusamos a ser um casal que só interage 20 minutos por dia. Meu marido
não é meu roommate. Gosto de ter um tempo de qualidade com ele, o que significa
dedicar um pouco das minhas horas fazendo coisas que ele gosta (e ele cuida de
fazer o contrário também).
Por sorte, temos alguns interesses em comum, como a
academia. Que, aliás, é uma atividade fixa que me ocupa cerca de uma hora e
meia do meu período mágico pós-dezoito horas.
Tirando a academia e o tempo de qualidade com o marido, sobra
um precioso tempo que me recuso a manter vago – ou praticando o tal do nadismo,
como algumas pessoas vêm difundindo. Simplesmente porque não consigo ficar
deitada sem fazer nada quando eu sei que poderia estar: lendo um livro, escrevendo
um livro, assistindo a um seriado de humor, assistindo a um seriado de
suspense, cuidando da minha casa, assistindo tutorial de maquiagem no YouTube
(sou viciada, me julguem), testando o que aprendi nos tutoriais, conversando
com meus amigos no Whatsapp, pesquisando na internet sobre assuntos que me
interessam (de dietas detox a evidências da existência de extraterrestres) e agradecendo ao Manoel Carlos, que fez uma
novela das nove tão ruim que fez a mim, noveleira de plantão, ganhar uma hora a
mais.
Naturalmente, Morpheu me pega no meio de uma dessas e me
leva até a hora que meu despertador me ensurdece. Desconto das minhas noites de
sono uma preciosa hora da manhã para ler as notícias do dia e preparar meu suco
verde. Depois, me dirijo até minha mesa
do escritório localizado aqui mesmo, no quarto ao lado e, antes de começar, agradeço
novamente. Agora não mais ao Maneco, mas a Deus. Em uma época em que o tempo vale diamante, é
um privilégio poder estar sempre ocupada apenas com coisas que me dão prazer.
(E se você é desses que pensa que atividades prazerosas não
contam como ocupação, sinto muito pela sua vida).
Imagem: freeimages.com
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E parabéns por essas três coisas: preocupação com a saúde, com a família e com o mundo à sua volta. Dietas, Academia, tempo de qualidade com o marido e ler e escrever - respectivamente.