A BRIGA NÃO COMPENSA >> Fernanda Pinho
Estávamos eu, minha mãe, minha irmã e meu marido no carro.
Minha mãe ao volante. Cerca de oito horas da manhã, num dos principais
corredores de acesso de Belo Horizonte. Não é difícil imaginar que havia muitos carros e o trânsito estava lento. Não existia pressa da nossa parte pois
havíamos saído com antecedência para nosso compromisso, exatamente por saber de
cor e salteado a situação do trânsito naquela hora, naquele local. Não parecia
ser, porém, a situação da senhora que estava atrás de nós que, do nada,
desembestou a buzinar.
Não fizemos nada, afinal não havia o que fazer. Ela, por sua
vez, não se intimidou em nos cortar pela direita e passar por nós buzinando e
apontando o dedo do meio. Nossa primeira reação foi cair na gargalhada. Depois,
morri de pena. Pena porque nem precisa ser muito inteligente para saber que a
ultrapassagem não adiantou em nada e ela continuou empacada no trânsito, como
estávamos todos. Pena porque ela rumaria a um compromisso importante (acredito
eu que algo muito importante a esperava) carregando toda aquela energia
negativa. E, principalmente, pena porque
ela tomou tal atitude achando que nos prejudicaria de alguma forma e a única
prejudicada foi ela. Nós seguimos rindo do episódio e ela amargurada e isolada
em sua mundinho onde as coisas têm que funcionar ao seu modo.
Sei que é assim, por experiência própria. Já fui uma pessoa
muito boa para briga e geralmente eu me saía muito bem nos meus argumentos e na
imposição do meu ponto de vista. E o que eu ganhei com isso? Como a diz a música
do Pato Fu: “Das brigas que ganhei, nem um troféu, como lembrança, pra casa eu
levei. Das brigas que perdi, essas sim, eu nunca esqueci”.
Aprendi que toda briga, no fim das contas, é derrota. E, por
isso, tenho abandonado algumas antes de entrar. Semana passada fui expulsa da
academia onde malhava. Sim, expulsa. Reclamei que as esteiras não estavam
funcionando e a dona não gostou da minha reclamação. Expliquei para ela que eu
estava reclamando pois todos os dias acontecia alguma coisa (ou era a academia
que fechava para reforma sem avisar, ou eram os ventiladores que não funcionavam,
ou a mensalidade que subia sem comunicado prévio). Insatisfeita com minha
opinião, ela me convidou aos berros de “some daqui” para que eu me retirasse do
recinto, que ela não precisava de aluno insatisfeito. Eu tentei articular
alguma defesa, mas fiquei chocada demais com a reação extrema da mulher. Eu que
nunca fui expulsa de lugar nenhum, sendo enxotada só porque reivindiquei algo
pelo qual eu havia pago. Meu marido, que assistiu a tudo chocado, e é uma
pessoa que não suporta briga, registrou uma queixa na polícia em minha defesa.
Quando cheguei em casa, logo depois do episódio, só
conseguia chorar de nervoso. Desabafei
com algumas pessoas e recebi algumas orientações sobre o caso. Mas,
sabe, decidi deixar pra lá. Resolvi meu problema andando mais dois quarteirões
e me matriculando em outra academia. Coisa, aliás, que já era um plano nosso.
Estávamos apenas esperando o fim do mês.
Quanto à moça que me expulsou, coitada. Não pode sair do seu
corpo e se matricular em outra existência. Está fadada a conviver com ela
mesma. Com sua intolerância às críticas, com seu mal humor, com sua
impaciência, com sua arrogância, com sua dificuldade em gerir seu negócio e as
pessoas nele envolvidas. Quem sou eu para fazer alguma coisa contra ela. A vida
já fez.
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