OS CARROS TÊM PARA-CHOQUES >> whisner fraga


fiar-me em maquinismos, não!, em enredamentos mancomunados com gentes?, ai, traçamos o nome do pai, é salutar a vela a toda divindade mediadora de milagres, pousamos as solas na rua e tentamos a educação contra a casmurrice generalizada, o ódio mesmo, parece, 

nós, com nossas tramas quebradiças cativando branduras, um sorriso não custa nem o desgaste do dente, é só o esforço dos músculos mesmo e a retribuição pode valer o dia, tentar e esquecer, se vier, veio, 

vamos abraçados, eu e helena, e isso em si é um risco, fel é moda, mas essas ameaças esperamos derrotar com ternura (que termo démodé) e continuamos, vergando o olho para os engenhos, o semáforo relutante, helena e eu atravessamos na faixa,

sempre atravesse na faixa, filha,

mas não há lei que caiba em períodos belicosos, um lapso, e também deve ter culpa a conversa, no ponto, desviante de prudências, essas corriqueirices tão ao gosto da desatenção, não vou ao auge da imodéstia, todos temos alguma responsabilidade em algo, alguns mais, outros menos: o sinal verde a dele, helena e eu a nossa, os carros outras, tudo fantoche, 

o sinal verde porque despontou quando estávamos a meio da travessia, 

helena e eu por nossa distração,

os carros porque sim, e, não bastasse isso, há um motorista nas rédeas, o que explica tudo, mas, para não deixar dúvida, eles avançaram sobre nós, 

eles aceleraram sobre nós,

nos safamos a custo de arrancadas, sprints e sustos e, do outro lado, na calçada, descansamos, nos refizemos e, como não somos nem queremos ser santos, xingamos.




Imagem de Ryan McGuire por Pixabay. 

Comentários

Zoraya Cesar disse…
que susto, Whisner. A violência do trânsito nada mais é que a demonstração cabal da nossa falência social e humana. Atrás de um volante nos transformamos em menos que animais. Paciência, cuidado com outro ser humano desprotegido são artigos em extinção.

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