SEM UM PINGO DE SATISFAÇÃO >> Sergio Geia
Sim. Sem um pingo de satisfação. Sem um pingo de satisfação eu digo. Hoje me uno a milhões de brasileiros que foram atacados por esta peste. Sim. Estou com Covid.
No ápice da minha autossuficiência e arrogância eu dizia que não pegaria, afinal, continuava a usar máscaras, andava sempre com álcool gel no bolso, evitava sair de casa. Mas não posso controlar tudo, ninguém pode, e um incidente na semana passada trouxe a mim a Ômicron.
Minha mãe, que sofre de demência vascular (segundo os neurologistas; segundo a geriatra ela sofre mesmo de Alzheimer), sexta-feira, 14/01, não passou o dia bem e, à noite, precisei levá-la à emergência de um hospital. Ela não acordava, arfava e não respondia aos nossos chamados. Lá fomos nós, eu agitado, ela desacordada, dentro de um veículo do SAMU. Pronto-socorro lotado, gente chegando por todos os lados, tosses, espirros, papéis, fichas, hospital, elevador, visitas, etcéteras, etcéteras e etcéteras. Ela está bem, depois de uma semana internada, já de volta ao lar, uma pneumonia por influenza.
Segunda à noite, 17/01, tive dor de garganta, ânsia, perda de apetite, nariz entupido (estranhamente entupido; não espirrava, não escorria), noite sem dormir. Na terça, dor de garganta, dor nas pernas, dor no corpo, sensação de fadiga. Na quarta fiz o teste de antígeno, e o farmacêutico, até com certa simpatia, olhou fundo nos meus olhos e sentenciou. Depois confirmei no papel que ele havia me dado: “COVID 19: POSITIVO”. Assim mesmo, em letras maiúsculas. Pra assustar. Pra fazer tremer. Se desse negativo, iria fazer o teste de RT-PCR. Mas como deu positivo refutei uma confirmação.
No caminho de casa bateu uma coisa estranha, sensação de impotência, de abandono, medo diante da imprevisibilidade da doença e a pergunta que não queria calar: “E agora? Como vai ser?”, cada um reage de uma forma, eu pensava. “E eu? Como vou reagir?”
Algo que ninguém viveu, que assusta, e que foi gerida pessimamente por essas pessoas que arrotam poder e brincam de governar, estão arruinando com tudo, com a vida, com a saúde, com a educação, com a cultura, com os indígenas, com o meio ambiente, um desastre absoluto.
Estou vacinado com duas doses da AstraZeneca, mais uma da Pfizer de reforço, tomada exatamente no dia da internação da minha mãe. Talvez por elas, estou aqui conseguindo escrever. Já passou quase uma semana do início dos sintomas. Estou bem. Continuo à base de dipirona e antigripal — ontem tentei parar mas o nariz virou um rio; recomecei.
Hoje mandei mensagem para um amigo médico que, contemporâneo a mim, também pegou Covid:
— E aí? Quanto tempo durou seu “estado de Covid”? Só para eu calcular quando vou me livrar dessa “coisa”.
O dele foi rápido. Eu vou ter de esperar. 10 dias. Talvez. Mas está ótimo. Estou vivo.
P.S: Esta crônica foi escrita em 23/01. Hoje, 29/01, estou bem, sem medicação, sem sintomas e com exame NEGATIVO, assim mesmo, NÃO REAGENTE (NEGATIVO), em letras maiúsculas, para tranquilizar; só um pouco.
Comentários
Whisner: Valeu, Whisner. Santas vacinas, isso sim. Grande abraço!
Zoraya: Estamos todos bem, Zô. E a gente trabalha assim, né, fotografando esses momentos.
Albir: Que triste isso, Albir. Politizaram uma questão de saúde pública.