NÃO ESTÁ DE PASSAGEM, MAS SEMPRE PARTE >> Carla Dias
Nesse dia em que me levantar se trata de um levante, uma rebelião de libertações que mantenho prisioneiras no ser alguém que lida com tormentos, uma renúncia por vez.
Regressa para desterrar os meus dilemas, desacreditar os meus enredos de estimação. Retratar minhas faltas, dizer em voz alta as palavras que jurei que nunca diria em troca de um afago da felicidade. Fazer-me jurar falso, e em vão, que o isolamento é uma segurança de sabores tantos, de deleites diversos.
Para me ver mentir como mentem os acostumados a evitar auditorias emocionais.
Nesse barulhoso dia, vem para janelar verdades, furtar desculpas dos armários do convencimento de que normalizar sofrimento é trabalho para os escolados em esquecer começos. Para eles, tudo deve morrer antes do daqui a pouco. Recomeços são prospecções sentimentais do que nasceu decretado. E quem recomeça é só um estilhaço do existe em epílogo de fôlego.
Reaparece para me perguntar, em segredo, o que penso sobre isso e aquilo. Então, usar minhas respostas contra meus disfarces. Despir-me a alma à navalhadas de curiosidades raras, aquelas que vivem em mim, esperando quem delas queira saber. Porque você gosta de como emudeço para então desabrochar a violência do lhe querer o bem. E minha benquerença é o seu descarte preferido, o meu desassossego perpétuo.
Adormeço às margens do privilégio de um sentimento estampando um cardápio de enganos. Então, depois da sua catarse, sou esquecido...
Até a próxima vez que a sua saudade me arrancar do meu abismo com uma palavra-chave, uma ironia e um sorriso.
E um adeus de sustentar esperas.
Imagem © Susann Mielke por Pixabay
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