VOCÊ MESMO >> Carla Dias

 Qualquer coisa que me leve a pensar melhor sobre o que desconheço é bem-vinda. Nos últimos dois anos, tenho encarado muitas mudanças e sei que isso não vem acontecendo somente comigo.

O mundo sacudiu a todos nós nesse período.

Aprendi muitas coisas, descartei outras, repensei até aquilo que nunca havia despertado dúvida em mim. Mas aí é que está... Não se trata exclusivamente de mim.

Durante essa jornada de desapego, aprendizagem, revisão de sentimentos e conceitos, reflexão sobre o tempo a ser preenchido com a novidade de ter mil perguntas para fazer a si mesmo, observei também a minha ignorância a respeito do outro, de mim e do que não desejo para mim e nem para você. 

Você mesmo.

Eu não desejo continuar a ignorar como valsamos entre a nossa importância e a falta dela. No meu processo de reaprendizagem de mim, pouca coisa ficou no lugar e eu prefiro assim. Fazer de conta que o universo não pode virar tudo ao avesso a qualquer momento é construir nas nuvens o que só é possível alicerçar em terra firme.

Falo sobre algo bem simples: reconhecimento de que há mais do que rezam os nossos universos particulares. Que nem sempre é certo, tampouco justo escolher a omissão.  Que o pouco com o qual você pode colaborar também pode ser o tudo para outra pessoa. Que a diferença só vale a pena quando a valorizamos e aprendemos com ela. Que não precisamos concordar em 100% com o outro para fazermos algo que não beneficie exclusivamente a nós mesmos e que só é possível acontecer de maneira significativa se estivermos juntos.

Sei que o que falo não é novidade, o que torna tudo mais triste. Posso falar o mesmo considerando os livros que leio, a música que escuto, os amores que sinto, os desesperos que coleciono, os afetos que conquistei. Posso romantizar, mergulhar nas palavras como se desse mexido só pudesse sair coisa boa. Mantenho certa fé no ser humano, mas isso não significa que eu não me desaponte constantemente com a facilidade com a qual nos virarmos para o outro lado e ainda usamos a defesa do erro nunca ser nosso, mesmo quando não se trata de erro.

Mantenho um tanto de fé no ser humano. Arrancá-la de mim será difícil, porque quando acontecer, também eu serei aquela pessoa que não se importa.

E eu quero me importar. 

Comentários

Zoraya Cesar disse…
Nem adianta tentar arrancar, Princesa das Palavras. É tão inerente a vc qto sua pele. Sorte da humanidade.
Carla Dias disse…
Zoraya, Zoraya... obrigada.
branco disse…
Você nunca deixará de se importar!
Albir disse…
Só há uma coisa a fazer, Carla: querer continuar se importando. Tá muito fácil virar para o outro lado.
Paulo Barguil disse…
Obrigado, Carla, por nos lembrar do que é mais sublime na vida: se importar, se comprometer, cuidar.

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