RESTOS DE MIM >> Sandra Modesto
O que restou de mim
Senão o sol tardio da manhã namorando meu corpo nu exposto no meu colchão
descobrindo minhas costas largas entre a cama e a janela queimando minhas pernas
quando eu viro de lado
O que restou de mim
Senão um banho ardente no curto espaço do lavabo e o escovar dos dentes ainda meus
E o hidratante espalhado na minha
pele molhada.
O que restou de mim
Além do café descendo a garganta e o sabor da erva doce do bolo de fubá ciumento pelo meu degustar frenético do pão de queijo corriqueiro da vida
O que restou de
mim
Senão a estranheza dessa vida nova e velha.
Vela e sopro
Diante da minha imagem no espelho pequeno que mal cabe algumas estranhezas
Recordo-me. Eu roqueira eu a moça que um
dia gozou.
O que restou de mim senão o amor à dor o marasmo o silêncio as lágrimas invisíveis
No imenso circuito depois do nada
Para emoldurar meu resto
( Não é crônica. Mas é o que resta).
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