ELAS SANGRAM >> Sandra Modesto
Nos anos 70, não existia a palavra menstruação.
A gente ficava mocinha ou a gente ficava de Chico.
Sim. Pra vocês terem uma ideia, na minha casa, éramos sete mulheres. Eu, minha mãe, minhas quatro irmãs e minha tia- irmã.
Eu queria muito ficar mocinha.
Afinal, minha irmã do meio e a mais nova, ficaram mocinhas aos 11 anos.
E eu? Aos 13.
A gente sangrava e usava toalhinhas de pano.
Horrível!
Cheias de sangue manchado, minha mãe fervia aquilo. Era muito louco.
E tinha restrições.
Quem ficava de Chico, não podia comer comidas gordurosas, não podia lavar os cabelos, entre outras.
Meu pai, maravilhoso, comprou absorventes higiênicos e mandou entregar pra gente.
A vida ficou melhor sem toalhinhas.
A partir daí absorventes espalhados por todos os quartos e gavetas.
Por isso, é muito cruel a suspensão do kit de absorventes para adolescente em vulnerabilidade social. A pobreza menstrual é triste e real. Eu fico imaginando colocar papel higiênico, papel de jornal e o sangue jorrando nas pernas.
Mulher sangra gente.
“O veto de Bolsonaro a dois artigos do Programa de Proteção e Promoção de Saúde Menstrual, aprovado pelo Congresso no mês passado, pode deixar 5,6 milhões de mulheres sem acesso a esse item - são estudantes em situação de vulnerabilidade social,mulheres em situação de rua, além de presidiárias, e internadas em unidades para cumprimento de medida socioeducativa. Sem contar outras pessoas que também menstruam, como homens trans e pessoas não-binárias.” (Jornal El País,edição de 12 de outubro)
Eu, como mulher, que menstruou dos 13 aos 38 anos e parei porque tirei meu útero, não podia deixar de escrever sobre o assunto tão importante. ELAS SANGRAM. Cinco dias por mês.
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