BLUE JAY >> Carla Dias >>
Cinema me agrada. Com o tempo, percebi que por mais eclética que eu seja na hora de conferir filmes, acabo me envolvendo mais com aqueles em que a história conduz os personagens. Menos locações, mais diálogos, roteiros bem escritos, tramas bem amarradas.
Recentemente, assisti a um filme com um ator que aprecio muito, Mark Duplass. Não vou tentar explicar o motivo de gostar tanto dele, porque não saberia mesmo como fazê-lo. Eu gosto. É gosto.
Lançado em 2016, Blue Jay, com direção de Alexandre Lehmann, traz Mark Duplass, e Sarah Paulson em uma trama sobre ex-namorados que se encontram por acaso, mais de vinte anos – e muitas histórias vividas – depois.
O fato de o filme ser em preto e branco me agrada profundamente. Durante o filme, percebe-se o quanto esse detalhe é valioso, pois ele dá mais destaque ao roteiro. Para mim, quando a história mergulha na essência das pessoas, a melancolia se torna uma ferramenta valiosa.
Porém, a melancolia do filme, aguçada pelo preto e branco das imagens, é desafiada pelo humor que conectava Jim e Amanda há mais de vinte anos, hoje refinado pelas experiências de quem se tornaram.
Blue Jay é uma contemplação ao que poderia ter sido e como o tempo nos molda. Mesmo durante os momentos espirituosos, percebe-se uma tensão entre Jim e Amanda, de quem deseja ser reconhecido como antes, não como agora. Apesar da clara profundidade da conexão entre eles, percebe-se certo desconforto. Quem nunca olhou para trás e questionou como teria sido se a escolha fosse outra? No caso deles, ao transcorrer dessa revisitação ao passado, o espectador se pergunta por que eles estão separados. Eventualmente, a resposta vem. Trata-se da vida acontecendo, independente dos nossos desejos.
Para um filme que exige uma boa interpretação, Sarah Paulson e Mark Duplass chegaram lá. É agradável vê-los, escutá-los. É fácil embarcar no que os incomoda, conecta, separa. Aliás, Duplass foi um pouco além, já que também assina o roteiro de Blue Jay.
carladias.com
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