A ARTE DA CURA >> Paulo Meireles Barguil
Saúde.
Quem não a deseja?
Há quem diga que, com ela, a pessoa pode correr – voar, andar, pular... – atrás do que deseja.
Eu acrescento: e também fugir do que não almeja!
Saúde.
Dente, cotovelo, dedo do pé: eu nem me lembrava que os tinha antes de eles doerem!
Ainda bem que o protesto deles é isolado: um de cada vez...
Acho que eles são parentes de cometas adolescentes, cujas aparições são esporádicas e não esperadas.
Saúde.
De quem?
Do corpo, da alma, da mente?
É possível separá-los?
É possível uni-los?
Seria a doença a manifestação da cisão da harmonia entre eles?
Saúde.
Arte, Ciência, Filosofia e Religião: qual construto cultural tem a poção curadora?
O outro pode cuidar de mim?
Pajé, curandeira, xamã, rezadeira, mago, clérigo, médico, psicólogo: múltiplas opções.
Escolha uma, se assim desejar, ou até mais de uma!
Saúde.
Afinal, por que adoecemos?
Buda declarou que a causa do sofrimento humano é o fato de que a felicidade está sempre acabando, pois o que caracteriza a vida é a impermanência, mas, como desconhecemos isso, nos apegamos ao que é agradável e sentimos raiva quando algo ou alguém destrói essa ilusão, fruto da nossa ignorância.
Ah, essa raiva...
Esse desejo insano – literalmente, doente – de vingança que nos arrasta para o inferno.
Saúde.
Como adoecemos?
Jesus falou: "Os olhos são como uma luz para o corpo: quando os olhos de você são bons, todo o seu corpo fica cheio de luz. Porém, se os seus olhos forem maus, o seu corpo ficará cheio de escuridão." (Lc 11, 34).
O mirar do corpo: separação, focado no passado ou no futuro, queixa...
O fitar da alma: unidade/totalidade, imerso no presente, gratidão...
Saúde.
Tão simples.
Olhar também para dentro e não somente para fora.
Substituir culpa por compreensão.
Mudar intolerância por paciência.
Converter raiva em compaixão.
Afastar-se do ressentimento e aproximar-se do perdão.
Trocar guerra por paz.
Permutar falar por silenciar.
Comutar o correr em parar.
Transformar o apego em desprendimento.
Olhos, mente, coração: todo o nosso ser.
Desejo-lhe saúde!
[Crônica dedicada a Fabiana Portante e Kelli Gisse, que me instigaram a escrever sobre a temática]
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