MAIS HONESTIDADE, SOLTEIROS >> Mariana Scherma
Porque
não é fácil ser solteira e porque é superdifícil encontrar alguém legal, o
mundo anda cheio dos aplicativos pra facilitar esse caminho. Não sei bem se
facilitar é a palavra, mas talvez tornar a busca um pouco mais divertida, um
pouco mais cheia de história pra contar. Eu sempre desconfiei de quem apela pra
internet pra encontrar alguém, quem fazia isso pra mim até então eram pessoas
tipo o personagem Raj, de The Big Bang Theory, bem nerd e bem incapaz de conversar
com quem lhe interessa. Mas depois que tive preguiça de sair de casa (a idade
sempre chega) e algumas amigas me estimularam a baixar o tal aplicativo,
arrisquei ué. Não tinha nada a perder mesmo.
No
primeiro momento, você acha que resolveu sua vida amorosa foi resolvida. Sim,
chove caras interessantes e interessados em você. Aí você checa as afinidades,
vai conversando e se enche de esperança. Tipo uma bexiga de aniversário bem
gordinha. Até que sai pra uma cervejinha ou cinema e descobre o quanto os
gostos em comum podem ser forçados e mentirosos. Imagine alguém espetando sua
bexiga de esperança com um alfinete de honestidade. Pois é... Cadê um órgão
tipo Procon pra fiscalizar isso? Sim, porque eu dou um voto de confiança até
que me provem o contrário. Mas talvez tenha que mudar esse conceito de dar sempre
um voto de fé ao ser humano solteiro à procura.
Depois de muita conversa, um dos candidatos via
aplicativo me levou ao cinema. Segundo as informações, ele gostava de rock como
eu. E pelas nossas conversas, ele parecia entender de cinema. Ok! Entrei no
carro dele e começou a tocar música country dos EUA. Meu cabelo arrepiou num
princípio de terror (parênteses necessário: nada contra quem ouve country. Mas
assuma isso no perfil do aplicativo, por favor). Segundo sinal de que a coisa
já estava afundando: ele prefere ver filmes dublados. Meu pânico só aumentava.
Depois, descobri que ele detesta ler (jornais, revistas, gibi, bula de remédio,
livros...). Como uma pessoa pode odiar ler? Ok, a vaca, que dizer, o boi foi
mesmo para o brejo em dois momentos: primeiro, quando ele disse que a única
coisa que ele lia era legendas de filmes (mas como o fulano prefere filmes
dublados, a frequência não é das maiores, não). Com certas coisas, não se faz
piada. Simples assim. E segundo, quando disse que o filme que mais o marcou foi
Jamaica Abaixo de Zero. Atenção ao diálogo:
_ (ele) Tenho vontade de conhecer a Jamaica, de verdade. Por causa de um filme que assisti e me marcou demais.
_ (eu já sem meias palavras) Ai, não vai me dizer que foi aquele tosco, Jamaica Abaixo De Zero.
_ (ele) Esse mesmo! Mas é ótimo, você viu?
_ (eu com cara de “socorro, mundo”) ... (não disse nada, só pensei comigo mesma, vou processar o Tinder (o aplicativo) por perder meu domingo à tarde.
Mas
eu não fui a única com histórias engraçadas. Uma conhecida encontrou um cara
que adorava conversar sobre discos voadores, parece até que tinha sido
abduzido, segundo ele. E provavelmente tem um tantão de gente aí que poderia
acrescentar umas pérolas a essa crônica. Eu sei que sou exigente, mas nem teria
dado chance ao groupie de Jamaica Abaixo de Zero se ele tivesse sido honesto e
falasse de cara que não lia, ouvia country music e preferia filme dublado. Tudo
o que eu detesto. Falta um pouco de honestidade nesses aplicativos, quer dizer,
na vida mesmo. Pra que vender uma imagem que não corresponde nadinha à sua
realidade?
Eu
fugi do encontro assim que deu, nem dei beijo de tchau no rosto porque não
queria criar vínculos. E o mais engraçado é que quando o cara não interessa
mesmo é que você é mais você. Sem se importar se vai agradar ou não, você
agrada. Isso, o tiete de música country continuou me procurando, mas já cortei
porque estava na cara que não ia dar em nada. Sartre disse que o inferno são os
outros. O inferno desses aplicativos são as pessoas que não assumem sua
verdade. Resumindo, continuo solteira e que venha o próximo. Uma hora dá certo!
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