SOBRE FAZER PARTE DE UMA NAÇÃO >> Mariana Scherma
Cada
vez mais eu acho que as pessoas (sem generalizar, hein!) têm uma preguiça
danada de pensar. Como se parar um pouco pra olhar pra dentro de si mesmas e do
mundo fosse roubar tempo de... sei lá o quê. Olhar ao redor e se sentir parte de uma nação
não é das coisas mais simples, é sempre mais fácil esquecer em quem votou e pôr
a culpa na corja de políticos. Mas aí vieram as manifestações e eu fiquei ainda
mais na dúvida sobre esse questionamento em relação ao nosso mundo – ou só ao
nosso Brasil mesmo.
Antes
de mais nada: não, eu não sou contra a manifestação que encheu as ruas e deu
fôlego a nossa democracia bebê, também não vou falar da falta de foco, afinal,
não falta foco, o que sobra, na verdade, é problema. Educação precária, excesso
de tarifa (cujo dinheiro vai pra onde mesmo?), saúde em colapso, transporte
terrível (mas caro) e, na minha opinião, o principal: políticos que se
esqueceram de que são representantes do povo e que só estão no Congresso pra
resolver problemas próprios, pra ficarem ainda mais ricos – e isso desde que o
Brasil é Brasil.
Aí
parte dos manifestantes joga a culpa do colapso do nosso tempo na conta do PT e
pede impeachment da Dilma. Oi? O que o impeachment resolve, minha gente? Nossos
direitos de cidadãos têm sido precários há muito tempo, sem contar que as pessoas
deveriam saber que a presidenta não tem todo esse poder onipresente, não. Boa
parte dos manifestantes preguiçosos mostra suas placas de “fora, Dilma”, se
orgulha de se dizer sem partido, fala muito, mas sem conteúdo coerente. Eu fico
um pouco chateada com esse olhar superficial sobre a nossa política (mais uma
vez, eu sei que não é a maioria), dando um jeito de parecer que é a Dilma o
começo e o fim de todas as nossas mazelas. Essa preguiça de entender tudo o que
acontece me deixa com vergonha alheia e não me representa em nenhum momento.
Nossos
problemas começam na educação. Uma educação que não ensina ciência política,
que não ensina você a enxergar mais fundo, que mal ensina você a interpretar um
texto e, mesmo assim, o passa de ano. Talvez venha daí o sucesso das frases de
efeito que pipocam no Facebook. Pra que ler um livro página por página se você
pode abrir aspas e colocar meia dúzia de palavras da Clarice Lispector pra serem
curtidas? E cá entre nós, a nossa educação anda deficitária faz tempo, não foi
culpa do governo atual... Nossos problemas não começaram com a construção dos
estádios da Copa de 2014. Nossa inimiga, a meu ver, não é a Copa. O Brasil
poderia melhorar com a Copa, como aconteceu em países que receberam eventos
desse porte. Poderia. Mas aí vem a corrupção, vêm os políticos preocupados em
superfaturar e tudo se perde.
Não
sei o rumo que todo esse movimento vai tomar, o que vai mudar... Só o tempo
dirá quais os resultados que virão dele (a PEC 37 já foi pelo ralo, pelo menos). De um jeito ou de outro, todo mundo
acordou mesmo e está se dando conta de que poderia viver num Brasil melhor,
ninguém pode mais dizer que futebol é o circo do nosso pão e circo. Agora,
falta questionar a culpa do governo atual, aprender como funciona o Congresso, pensar
muito sobre as eleições do ano que vem, não endeusar nenhum político (e checar
quem ele já apoiou e se já apoiou alguém do nível do Feliciano). Olhar para o
nosso passado político é uma forma de evitar erros futuros. O problema é que
nem todo mundo quer fazer isso, mais fácil achar um culpado só, pensar numa
frase de efeito pra um cartaz e boa. Não é por esse caminho que vamos mudar o
país. Afinal, política é das ciências mais complexas, não é simples de entender
e deveria muito ser incluída nos currículos escolares. Se isso acontecesse,
evitaria esse meu desabafo aqui.
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