MILHARES DE PUTOS >> André Ferrer
Ainda que premida entre
a espuma de um fone e o tímpano, a música é livre, alforriada dos esforços
mentais do ouvinte. O texto, no entanto, carece da prisão dos olhos e do labor
cerebral. Essa diferença cruel - e tão capaz de transformar livros em recantos
indevassáveis - tem me incomodado. Quisera que o conteúdo dos livros
vagabundeasse no ar como a música!
A ideia - vai - nem é
tão absurda assim. Este mundo está cheio de gente crédula. Na internet, por
exemplo. Textos, fotos e vídeos sobre conspirações. Todo aquele material a
respeito de experiências metafísicas e abdutivas. Os iluminati. O G12. O
projeto HAARP. Enfim. Por que o meu desejo seria tão absurdo?!
Há muita esperança nas
facilidades tecnológicas eu sei. Mas não é o meu caso. Para mim está bom como
está. Enquanto nenhum ET aparece aqui na minha rua, o melhor a fazer é lamentar
tanta credulidade e preguiça mental. Evidentemente, também é preciso rir - e muito
- diante do vaudeville.
Para mim, como está, ficaria. Venço qualquer barreira para ler um livro até a última página. Sou, na verdade, impaciente com os outros. Penso em quem me incomoda todos os dias porque não lê. Ora, como não posso me livrar deles, eu gostaria que se livrassem eles da preguiça. Imagino-os lendo muito e com variedade. Imagino-os dotados de bom senso, educação e cultura.
Para mim, como está, ficaria. Venço qualquer barreira para ler um livro até a última página. Sou, na verdade, impaciente com os outros. Penso em quem me incomoda todos os dias porque não lê. Ora, como não posso me livrar deles, eu gostaria que se livrassem eles da preguiça. Imagino-os lendo muito e com variedade. Imagino-os dotados de bom senso, educação e cultura.
Mas a tecnologia, pelo
menos neste mundo, ainda não resolveu tal estorvo. Quem sabe em outros mundos
haja uma plataforma ideal para a literatura. Algo que seja tão penetrante como
a mais frívola das músicas terráqueas. Algo capaz de exterminar a preguiça mental
e a credulidade prestes a dominar este mundo.
Quem sabe essa
tecnologia seja conhecida por uma daquelas quatro espécies alienígenas que,
segundo Hellyer, vivem completamente ocultas entre nós! Hellyer, sim, Paul
Hellyer. Curiosamente, um ex-ministro da Defesa do Canadá que, agora, escreve
livros para completar a renda. Livros a respeito das relações entre os extraterrestres
e os homens mais poderosos do nosso planeta.
Aliás, quanto ganha um
ex-ministro naquele país? Li outro dia que os políticos ganham muito pouco em
lugares megacivilizados como a Suécia. Deve ser pouco, também, no Canadá. E
ainda menos no caso de ministros aposentados. Ora, para um deles ter se tornado
uma mistura de literato chapa-branca e Eric Von Däniken!
Hellyer é um sujeito de
sorte. Vive em um mundo crédulo. Só que Hellyer não traz muitas novidades
ufológicas. Quando fala, dá voltas em torno da velha dobradinha EUA-Pentágono-Conspiração.
O que há de mais novo é que se trata de um ex-estadista. Mais ou menos como se
o Sarney aposentasse (amém!) e começasse a escrever sobre a vida sexual dos
botos maranhenses. “Mais ou menos”, é necessário frisar, pois no Brasil, ex-ministro
escreve por diletantismo. Não precisa de um só puto mensal de editora porque
recebe milhares de putos de aposentadoria.
Comentários
Escreves muito bem, rapaz!
Agradeço a indicação!