SOBRE (DES)EQUILÍBRIO E ELEVADORES >> Mariana Scherma
Elevadores
são invenção do capeta. Primeiro que estimulam o sedentarismo e são contra as
pernas torneadas. Segundo que, quando param, você fica num espaço terrível sem
janela, sem ar pra respirar e com péssimo sinal de celular. Moro no primeiro
andar e trabalho no segundo, ou seja, não preciso de elevador pra nada e os desprezo
solenemente. Não satisfeita, ainda critico quem está com a saúde em dia e pega
o elevador pra ir até o primeiro andar. Sou dessas.
Pra
entrar no elevador, tenho algumas regras básicas: 1. preciso que a bateria do
meu celular esteja quase inteira (pra pedir socorro, não pra acessar o Facebook
e contar que fiquei presa), 2. tenho que estar com um pouco de comida e água (vai
que o socorro demora...) e 3. necessito de uma distração (vale um livro ou a
companhia do Joseph Gordon-Levitt, aquele ator gracinha. Ou qualquer coisa que
faça o tempo correr mais depressa). Mas, anteontem, véspera do feriado e do
começo das minhas férias, estava com mala pesada + mochila + notebook e o
taxista já me esperando na porta, ou seja, engoli meu medo/desprezo e,
submissa, entrei no elevador. Adivinha! Sim, ele parou entre o primeiro andar e
o térreo.
Foi
aí que descobri que, antes de nascer, não passei na fila do equilíbrio nem da
tranquilidade, mas passei na fila da voz aguda. Meus gritos mobilizaram até o
cara do oitavo andar. Sou escandalosa assim. Ficar presa no elevador, apesar do
ar que parece ter sumido assim que ele parou, não teria sido tããão complicado.
Afinal, eu não estava com o Joseph Gordon-Levitt, mas tinha água, Halls de
cereja, dois livros e um celular carregadinho. O problema é que meu ônibus saía
em trinta minutos e, com todo meu otimismo, pensei ser coisa de super-herói o
moço da manutenção chegar antes disso. Achei digno liberar pro desespero e
comecei a gritar pular, pedir socorro. Pedi ajuda à síndica do prédio, pra
vizinha fofa de 86 anos, avisei minha mãe que provavelmente não chegaria pra
janta e que ela teria que vir me buscar. Sério, meu celular fazia, sei lá, três
ligações quase ao mesmo tempo.
Incrível
como o tempo passa devagar nessa situação. Fiquei presa 20 minutos e sapateei,
fiz polichinelo de tanto que pulei pro elevador descer, chorei, descobri que
rímel à prova d’água funciona, ri de nervoso... Até que o sujeito da manutenção
chegou e abriu a porta. Quando saí, ainda caí no chão do térreo
porque o elevador parou antes do andar. Mas quando me ergui, tive o meu momento
de final de Big Brother. A vizinha me abraçou e estava chorando de desespero, a
síndica me abraçou, o cara do oitavo andar ficou sem graça de me abraçar, mas me
ajudou com as malas, e até o taxista estava lá me esperando. Tinha também uma
outra senhorinha me consolando, nunca vi ela antes no prédio. Entrei no táxi e
ficou todo mundo acenando pra mim da calçada. Se isso não é fama, nada mais é.
Passageira, eu sei, como de Big Brother mesmo.
Depois
dessa, acredito que o moço da manutenção é meio super-herói, ele chegou rápido.
O taxista também, ele voou comigo pra rodoviária. Agora o elevador, eis aí uma
máquina recalcada... No momento em que entrei na bendita caixa de aço, ela deu
um jeito de me castigar. Continuo nutrindo zero admiração por todos os
elevadores do mundo. Eu vou de escada não pra elevar a dor, mas pra elevar a
paz de espírito. Até nunca mais, elevadores! Minhas pernas (que um dia serão torneadas) mandaram lembrança.
Comentários
também me aventuro a escrever de vez em quando, mas nunca com esse humor... muito bom mesmo!