PRIMOS DE PRIMEIRA >> Fernanda Pinho
Reconheço,
com humildade. Afinal, acontece até com os escritores de verdade, porque não
haveria de passar comigo que apenas brinco de escrever? Fiquei sem ideia.
Passei bons minutos olhando a tela branca e o cursor piscando e a única coisa
que me ocorreu foi que eu deveria começar a anotar as coisas que eu penso. Juro
pra vocês. Nas últimas duas semanas pensei em vários temas para minhas crônicas
que, agora, simplesmente me escapuliram.
Desisti
do computador e fui para o celular conferir minhas mensagens, especialmente o
chat que eu, minha irmã e alguns dos meus tantos primos estamos mantendo. Como
eles me matam de rir o dia inteiro, porque são espirituosos, criativos e cheios
de sacadas terríveis (no bom sentido) achei que seria bom recorrer a eles. E assim
começou a nascer minha primeira crônica interativa.
Lucinha
foi a primeira a se manifestar: “Eu posso ser o tema”. Claro que pode, Lu.
Aliás, não é de hoje que te devo uma crônica. Tenho tanto para fala sobre você.
Poderia ser sobre seu desprendimento com as coisas materiais, seu ombro amigo,
a beleza que você está irradiando nessa nova fase da sua vida. Poderia ser
sobre seus filhos. Dudu, meu melhor amigo. Bê, meu afilhado. Poderia ser sobre
o fato de você ter sido o cupido do meu casamento. Ou sobre tantas outras coisas
mais que nós compartilhamos. Olha, se eu fosse te recompensar por tudo em
crônica, passaria o resto da vida escrevendo.
Daí
veio o Fernandinho e sugeriu que eu falasse sobre o amor. Amor mesmo. Eu sei. É
o seu tema preferido do momento. E, devo confessar, que isso me deixa levemente
assustada. Até ontem você era o Neno que falava que queria “coate blanco”
(chocolate branco). E agora, chamar você de Fernandinho é apenas força do
hábito. Você já me ultrapassou em uns dez centímetros e “meio que está
namorando”. Sério, que mundo é esse onde as pessoas nascidas na segunda metade
da década de 90 já estão “meio que namorando”? Eu sei, o mundo em que eu estou
ficando velha.
Eu
ficando velha e a Marina ficando magra. Porque, claro, levando em conta que ela
estava suando numa esteira na hora que eu mandei a mensagem, emagrecimento foi
o que veio imediatamente à sua cabeça. Aliás, é um assunto que tem pautado
muitas de nossas conversas. Dieta, academia e sopas com misturas duvidosas
estão sendo consideradas por nós, que já fomos uma família magra. Mas depois de
tanta coisa pra comemorar, tanta festa, tanto churrasco era natural que
ficássemos um pouquinho mas rechonchudos.
Sabe, Marina, não temos gorduras localizadas. Temos resquícios de momentos
felizes. Mas se emagrecer vai te deixar mais feliz, estamos com você para o que
der e vier.
Estamos
com você e estamos com o Gu. Que não respondeu à minha enquete mas nem
precisa. O Gu é meu primo-gêmeo.
Nascemos no mesmo dia, 25 de setembro (e, a partir de agora, fica combinado uma
nova versão oficial de que nascemos no mesmo ano também, ok?). Por isso, ele
nem precisa me falar muito sobre como ele se sente. Eu sei. Somos iguais.
Versão masculina e feminina. A diferença é que eu estou um pouco adiantada. Eu
já vivi esse capítulo que você está vivendo agora. Mas eu te garanto, essa pode
não ser a melhor parte do livro, mas tem páginas incríveis por aí. Acredite em
mim. Eu sei que você acredita.
A
gente acredita muito um no outro e isso é muito legal. É muito legal ter uma
família como a minha. E eu agradeço todos os dias. A Deus por me dar a honra de
viver essa vida com vocês. E à tecnologia, por permitir que estejamos perto,
mesmo agora eu estando fisicamente e temporariamente distante. Então eu quis falar
sobre isso. Sobre como estamos de tantos modos conectados. Como é incrível
chorar de rir como se vocês estivessem do meu lado.
Eu
decidi que queria escrever sobre isso. A Kaká leu meu pensamento e deu a
sugestão. Eu e a Kaká sempre temos pensamentos parecidos. Somos mais ou menos
da mesma idade e herdamos a sequência mais tinhosa do DNA Pinho. Minha
lembrança mais remota da nossa relação é de quando eu tinha quatro anos e ela
cinco. E eu a invejava por isso porque achava que ter cinco anos era a coisa
mais legal que podia acontecer na vida de uma pessoa.
E
com essa lembrança tenho tantas outras guardadas. Como o dia em que eu, Paula,
Marina e Karina ensaiamos exaustivamente Os Três Porquinhos, para encenar para
outros primos e a Marina desistiu de última hora de fazer apresentação. Como o
Fernandinho com, sei lá, um ano de idade oferecendo “cafezinho quentinho” para
todos que chegavam na sua casa. Ou o dia em que eu quase fiz o Gu desmaiar obrigando-o
a cheirar amônia. Ou ainda o dia em que eu cortei o cabelo da Lucinha, para
desespero da Vó, que tinha feito promessa para Nossa Senhora de não cortar o
cabelo da menina. E a Vó, e todas as lembranças que compartilhamos dela.
Definitivamente,
é um absurdo ter uma família como essa e se achar sem assunto para escrever,
ter primos como os que eu tenho e não se sentir inspirada a cada minuto. Dizem
que os primos são nossos primeiros amigos. Acho que é por isso que escolhi tão
bem os amigos que fiz depois, porque logo de cara já ganhei amigos top de
linha.
E
tenho certeza que a Paula (que é minha irmã e por isso não entrou nessa
crônica, mas já mereceu e merece outras só pra ela) assina em baixo em tudo o
que eu estou dizendo e no que vou dizer agora: amo meus primos, os que estão no
chat, na crônica e os tantos outros que não estão aí, mas estão no coração.
Graças a Deus são muitos. Muitos e bons.
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