HISTÓRIA >> whisner fraga
as histórias dos povos são extraordinários compêndios de violências e tudo é vermelho: o rio, a floresta, a pedra, o mato, a cabeça apartada do tronco por um gume ressentido,
mata-se tudo, humilha-se tudo, estupra-se tudo, é a ordem,
esse sabor ferruginoso que alimenta o poder,
como reparar estes estragos se a natureza é essa?, se são eras de exceções?, as da balança sempre desalinhada?,
o escritor timorense luís cardoso lê um poema em tétum, para uma plateia pequena e privilegiada que pode estar em uma feira de livros em uma quarta-feira e ele lê um poema em tétum e há alguém filmando, mas não me informei se haverá algum canal em que o vídeo será depositado,
o timor leste foi invadido pela indonésia,
metade da população do timor leste foi assassinada,
defendem que a guerra produz nações melhores, cidadãos mais aptos a suportar a fome, a hostilidade, a privação, e luís cardoso estava lá quando seus irmãos foram abatidos e ainda assim ele não acredita na vingança,
a literatura de luís cardoso é, como o poema que ele leu, um cântico de perdão em que cada linha denuncia a injustiça, mas não se deixa tentar pela desforra,
e não é submissão, mas força, ora, não foi um mito bíblico dos mais repisados, em que um homem oferece a outra face ao algoz?,
simplesmente ser contra a selvageria e denunciar o tiro que rasga a testa, o florete aguçado, o falo doente de quem julga mais fácil invadir,
e acreditar na irmandade que nunca chegará.
(foto: copyright museum rezistensia)
Comentários
E uma pessoa que nao acredita na vingança é sempre uma esperança na humanidade.