VELHOS >> Sergio Geia
“Velhos” é o título do livro da Alê Motta, Editora Reformatório. Eu superindico, seja você moço ou velho. Textos curtinhos e profundos. Compre. Leia. Depois me conte.
Eu estou com 52, quase chegando aos 53. Bom... Quando comecei a escrever esta crônica era assim, mas o tempo voa. Como não a terminei e retorno somente hoje, melhor ser honesto: estou com 53. E falando em honestidade, honestamente, não me sinto velho; e nem deveria, não é? Mas certas coisas me acontecem...
De repente, vejo manchas brancas na calça, do lado direito, próximas ao bolso. Sempre no mesmo lugar, mas nem sempre. Não. Assim ficou confuso. Deixe-me ser mais claro. As manchas sempre estão no mesmo lugar: na calça, próximas ao bolso direito. Mas nem sempre elas estão. Compreende?
Quando estão e eu as vejo, trato logo de fazer a limpeza. O problema é quando estão e eu não as vejo, e saio todo pândego pra rua com a calça suja; nada mais deprimente. Devem pensar, tá ficando velho, o pobre, velho e descuidado; agora deu de sair à rua com as calças sujas. Não. Não admito.
Comecei então sistematicamente e com muita seriedade a observar as coisas do cotidiano, tentando descobrir como as manchas brancas aparecem. Não tardei muito a descobrir.
Vejam: quando escovo os dentes, às vezes ocorre o deslizamento de um fio de creme dental misturado com água na parte de trás do braço direito, saindo da mão, passando pelo pulso e quase chegando ao cotovelo. Eu não sinto. Se não sinto, não limpo. Esse mesmo braço, carregado da pasta escorrida e ainda úmida, toca levemente as calças na região do bolso direito; um desleixo, sem dúvida, e inadmissível.
Estou com 53. Talvez esteja a caminho da velhice, mas ela não chegou. E quanto às manchas, são bobagens, BOBAGENS!, mais uma das bobagens que devo encontrar por essas novas paisagens.
P.S.: Três coisas: 1. Sobre velhice, brincadeiras à parte, o que me disse o João Cláudio Guarnieri, o melhor pianista que eu conheço @joaoguarnieriprofessor, uma verdade pura: “Olha, tem hora em que eu fico pensando na vida da gente, nesse caminho que a gente tem que percorrer enquanto vamos ficando a cada dia mais fracos e vulneráveis. Nessas horas eu procuro parar de pensar, porque me parece tão injusto isso. Mas, enfim, é algo que foge ao nosso controle. Ou, por outra: algo cujo controle nós temos somente até certo ponto.”; 2. O Crônica, em parceria com a Editora Sinete, está lançando uma coletânea de clássicos, chama-se "Retire Aqui a Sua História". Se você me acompanha, ou acompanha outros autores da página, não pode deixar de adquirir. Entre no site da editora e economize pois o livro está na pre-venda até 20/06/2022: editorasinete.com.br; 3. Queridas e queridos, como manda o figurino. Nas próximas voltam os pequenos contos que vocês amaram. Espero que continuem a amar, faz tão bem.
Comentários
Mas faça o favor de prestar atenção às manchas de pasta de dente. Vc pode começar a ficar preocupado qd elas não estiverem lá: será q vc escovou os dentes ou não?...
Logo, manchas de pasta de dente não podem ser vinculadas a velhice, certo? Mas a distração do jovem que não quer perder tempo com coisas corriqueiras, mas quer gastá-lo com a vida.
Quando as manchas da velhice chegarem, acho que não serão só manchas, serão borrões mostrando que não há mais olhos que possam definir com exatidão os inconvenientes da vida!
Gde abç, jovem amigo!
Também gostei muito da reflexão que você compartilhou no primeiro ps sobre o envelhecer.