EXÍLIO >> Carla Dias
Os sons me fazem companhia. Não raro, o do vento se arrebenta nas costas das paredes das casas abandonadas. Há dias em que parece canção desprendida da dor de alguém, chego até a chorar, compadecida. É diferente de quando lamento minhas próprias dores, elas que latejam sem pausa, justo quando a pausa é a necessidade que me hostiliza, por eu não ter como atendê-la. Não à toa, elas me fazem escolher o pior abrigo: um desejo irrealizável, de martirizar o possível na condição de insuficiente. Não é assim pagar pecado? E eu pago os meus à vista, que nunca fui de fazer de conta, vou logo me debatendo nos erros, que são sempre tantos, de inibir acertos.
Ninguém me contou que seria assim: um remoer, despistar, enraivecer, então enlouquecer de desejar algo melhor, até compreender que o melhor é o incerto de boca arreganhada, com pedaços de chances empalados em seus dentes. Nem deuses, tampouco demônios me catequizaram, não souberam me indicar o caminho, que descobri, sem querer, não serve aos que, feito eu, são incapazes de desencadear esperanças.
Lembro de me deliciar com uma, certa feita. Era uma esperança extravagante, propagadora de fascínios. Existe na sua maciez por algum durante que não sei precisar. Ela me fez acreditar no que não acreditaria sem questionar, e, quase sempre, isso vem com um preço que não sei pagar sem espernear. Então, submeto-me ao infortúnio, porque, com ter a alma açoitada, eu sei lidar.
Sobre o caminho, a direção que me falta também me serve de busca. Saio por aí, os pés tocando chãos onde existiram mares, com a nostalgia de quem quer adivinhar o sentir o desconhecido. Onde, assim feito eu, nada mais é o que já foi um dia.
Imagem © Vito Campanella
Comentários
Nesse, em específico, esperança e solidão se misturaram, uma como a companhia do caminho e outra como o engodo nele. Talvez essa coisa do "qual é o meu caminho" é que está me deixando confusa, se bem que as vezes a questão se reduz ao tipo de passo que devo dar. Me conta: não existe essa coisa do " meu caminho", né? É só uma esperança-engodo, né?
Sigo a semana pensando, aguardando mais textos-terapia...
Gde bjo!
Eu acredito nos caminho, e também que nos desviamos dele com frequência. E mais, que ele pode mudar e nos mudar. O caminho, pra mim, é aquele que, apesar de toda dificuldade, aceita que meus pés andem sobre ele.