QUASE... >> Paulo Meireles Barguil
Temos uma vida repleta de quases.
Eles se referem a situações do passado ou do presente, as quais são, a depender da perspectiva do narrador, agradáveis ou desagradáveis.
As ocorrências de outrora, embora não possam ser objetivamente modificadas, são passíveis de mudança subjetiva no que se refere à interpretação.
Um quase choroso, portanto, pode se transformar num quase risonho.
A recíproca, como você sabe, é igualmente verdadeira.
Os acontecimentos da hora também são suscetíveis dessas alterações.
Um relacionamento que quase terminou ou que quase não se findava: "– Se eu (não) tivesse feito ou dito aquilo...".
Um livro que está quase pronto: "– Falta só um capítulo...".
Uma viagem – de avião, metrô, ônibus, táxi, trem... – que quase (não) aconteceu: "– Foi por um triz!".
Uma amizade que está quase se iniciando: "– Será que eu confio?".
Uma aprovação no concurso que quase ocorria: "– Se eu estivesse estudado aquele assunto!".
Um sonho de décadas que está quase se materializando: "– Junho está aí...".
Entre próximos e distantes, vivemos um roteiro que é continuamente reescrito pela vida, pois ela adora uma surpresa e faz de tudo – tudo mesmo! – para evitar que alguém revele o final.
Com ela, não tem spoiler, mesmo que alguém, tolamente, diga: "– Eu já sabia!".
[Pôr do sol no Pico Alto – Guaramiranga – Ceará]
[Foto de minha autoria. 23 de agosto de 2017]
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