OS NAMORADOS >> Albir José Inácio da Silva
DONA ZÉTI
- Mãe, este é Zeca. A gente vai
fazer trabalho junto. Tem pesquisa difícil de biologia.
- Prazer, Dona Zéti!
Eu não tive prazer nenhum não.
Ele tinha um topete espetado, brilhante e era cheiroso de perfume. Isso lá é
preciso pra fazer trabalho algum? E que roupa era aquela? Cumprimentei com a
cabeça, só avaliando a figura.
Já espantei meia dúzia de
moleques que se achegavam pro lado de Maria Eduarda. As vizinhas diziam “não
adianta, comadre, essa idade é assim mesmo”. Mas comigo não tinha disso não.
Bastava eu, que tinha engravidado aos quinze, Maria Eduarda tinha quem
cuidasse.
Não saí da sala, fingindo que
costurava, enquanto eles ficavam ali falando coisas esquisitas, até que se
cansaram.
- Boa noite! – disse o cheiroso,
forçando simpatia.
- Boa noite – respondi,
econômica.
Mãe não desconfia à toa. Passados
alguns dias e outras pesquisas, que eu nunca vi tanto trabalho de escola de
repente, Duda falou:
- Mãe, eu e Zeca, a gente tá
namorando.
Aquele garoto era tudo que eu não
queria. Meu santo não bateu com o dele. Quem é a mãe? Quem é o pai? O que
fazem? Onde moram? Nenhuma resposta agradava, sem falar do ar meio debochado e
o nariz em pé que me incomodaram desde a primeira vez.
Pois naquele mesmo dia à noite
aparece no portão o sujeitinho sem caderno na mão e com jeito de sonso. Topete
brilhante e espetado e mais cheiro do que um homem precisa. Eu engoli em seco,
prometendo que aquilo não ia durar.
E não durou mesmo, porque no dia
seguinte dei a volta na casa e cheguei de surpresa na varanda. Era tanta mão e
tanto beijo fora do lugar que botei o moleque pra fora aos gritos e cabo de
vassoura. Sorte dele que a enxada estava trancada.
Duda chorou e esperneou como toda
inocente que perde a cabeça por algum transviado, mas mãe tem que ser firme. Eu
levava e buscava Duda na escola, que não ia dar chance praquele moleque. Mas
ela melhorou rápido, o que pra mim foi uma prova de que aquilo era só faniquito
de menina boba.
Dias depois me apareceu em casa
pra fazer trabalho um outro garoto. Taí, esse era diferente até no nome: Pedro.
Não tinha aquele cabelo ridículo e usava roupa de gente. Era discreto, falava
baixo. Falou da viagem com os pais à Aparecida e mostrou no peito a medalhinha
da santa. Elogiou a cor do meu cabelo e disse que a mãe dele gostava de brincos
grandes assim como os meus.
A história toda se repetiu, com
uma diferença: quando cheguei de surpresa na varanda, lá estavam eles falando
do futuro, do que fariam no ensino médio e outras coisas de adolescente normal.
Respirei aliviada e fui pros meus afazeres certa de que tinha feito o que
devia.
Duda, que andava rebelde e
respondona, se transformou. Meiga e obediente, ajudava na casa, arrumava o
quarto e fazia os deveres de bom-humor. O que uma peste pode estragar a vida de
uma pessoa, um rapaz decente pode salvar.
No sábado foram ao cinema.
Despediram-se de mim com beijinhos na “mãe”- como ele agora também me chamava.
Mas eu ainda não confiava cem por cento - filho a gente confia desconfiando.
Esperei uns segundos, peguei a bolsa e saí.
Tive um pequeno susto quando se
desviaram da rota, mas foi só para comprar balas e amendoins, que de fato
custam uma fortuna no cinema. Ajuizado esse Pedro. Entraram para assistir uma
comédia romântica e eu relaxei. Fui pra casa com a sensação de dever cumprido.
A prosperar esse namoro, terei dias de paz.
(Continua em 15 dias)
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