WALTER WHITE OU MICHAEL SCOFIELD? >> Sergio Geia
Não sou muito dado a essas séries da Netflix. Mas
minha filha é e vive me mandando assistir a alguma coisa. Como os gostos de uma
adolescente certamente não se equiparam aos gostos de um quarentão, um dia
resolvi dar uma espiada, mas não sem antes pedir a indicação a um amigo.
A qualidade é indiscutível, os episódios são
curtos, as histórias são bem boladas. Assisti a toda a primeira temporada de House Off Cards, mas depois cansei. Na
verdade, era tanta engenharia de enganação política (não mais que a política
brasileira) que resolvi abandonar. Talvez seja isso: overdose. Leio diariamente
os jornais, sempre carregados de falcatruas de nossos representantes; não daria
certo ter como diversão de final de dia a síntese do que há de mais vil na
política. Enjoei. Mas não foi isso não; foi algo mais estético, eu diria. Acho
que senti a falta da Zoe Barnes, a quem me afeiçoei logo à primeira olhada. Ela
sumiu da história, e eu sumi também.
Fiquei algum tempo sem voltar à Netflix, até que
outro dia, o mesmo amigo de House Off
Cards me indicou Spartacus.
Trata-se de uma série criada em 2010 por Stven S. Deknight que conta a história
do gladiador trácio que chega a liderar um exército contra Roma. Assisti a todos
os episódios de todas as temporadas. Gostei. Triste com o fim e animado com a
descoberta de uma nova forma de entretenimento, emendei com Spartacus, Breaking Bad, Narcos e Prison
Break; foi quando me deparei com Walter White e Michael Scofield.
Scofield, que protagoniza Prison Break, é um jovem gênio, que comete um crime apenas para ser
preso na mesma penitenciária onde seu irmão cumpre pena, injustamente
condenado, prestes a ser morto na cadeira elétrica, e que está no centro de uma
trama diabólica que envolve até a presidente dos Estados Unidos; Scofield tem
tudo planejado para tirar o irmão de lá. White, que protagoniza Breaking Bad, foi eleito o melhor
personagem de séries de todos os tempos, numa pesquisa realizada pela revista
Empire. Professor de química, comum, inexpressivo, com sentimento de
inferioridade, mas gênio em sua matéria (o desenrolar da série vai mostrar que
o White Heisenberg é muito mais que isso), condenado à morte por um câncer no
pulmão, passa a produzir metanfetaminas, e se torna um dos maiores produtores
da droga dos Estados Unidos. Diversos fóruns discutem quem é o personagem mais
inteligente: Walter White ou Michael Scofield?
Ambos, na verdade, são gênios e conseguem superar
situações limites apenas com o uso da genialidade. White parece ter uma inteligência
mais sutil e refinada; Michael tem um conhecimento denso sobre todos os
assuntos (sabe aquela frase “todos somos ignorantes, porém em assuntos
diferentes”?; pois é, Michael foge dessa regra; sobre todas as áreas do
conhecimento humano, ele tem dados, elementos, informações), e uma capacidade
incomum de planejamento. Scofield, como disse um amigo, trabalha num emaranhado
muito mais complexo de relações do que Walt; por isso, a sensação que Prison Break passa, de que sempre as
coisas não saem conforme planejado. O número de pessoas envolvidas e situações
limites são muito maiores e exigem muito mais de Scofield. Talvez por isso eu
diria que, se tivesse que apostar em um, apostaria em Michael Scofield.
Mas o que importa também saber quem é o mais
inteligente? Ambos são personagens complexos, densos, as séries são ótimas,
justificam o tempo gasto na frente da televisão.
Em alguns dias da semana é assim: eu chego em
casa, tomo um uisquinho e antes de comer — e quem sabe terminar a noite com um
bom Philip Roth nas mãos —, dou uma espiada em Prison Break .
P.S. Na semana passada eu acabei a quarta
temporada; nem preciso dizer que na terça eu fiquei grudado na Fox, certo?
Comentários
Depois vai nos contando o que você anda vendo, Sergio. Se essa crônica já saiu boa, imagina as próximas!
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