A VIDA EM PIXELS >> Clara Braga
Não tenho boa memória, mas me lembro bem de um período na escola em que tínhamos aula de etiqueta. Não era aula de etiqueta propriamente dita, era alguma outra disciplina que não vou me lembrar qual, mas que a professora aproveitava para tratar do assunto. Talvez fosse até português, pois me lembro de ler um livro sobre atitudes que eram consideradas corretas e incorretas em diferentes contextos.
Lembro que entre as lições aprendíamos a respeitar o lugar do outro na fila, o que sempre gerava revolta naqueles colegas que adoravam guardar dianteira ou traseira na fila da cantina para comprar o lanche. Não pegar o material do colega sem autorização também era outro assunto polêmico, toda turma tem aquele aluno que começa o ano com o material escolar correto e termina tendo que pedir lápis emprestado e aquele que nunca se deu ao trabalho de comprar nada mas termina o ano com o estojo cheio. Coitada da diretora que tem que mediar os pais revoltados que buscam pelo material comprado. Mas não era só sobre situações escolares que estudávamos, também tinham as lições sobre como se comportar quando fosse para a casa do colega fazer trabalho: não colocar o braço inteiro na mesa de comida na hora da refeição, não começar a comer antes que todos estivessem servidos, não falar de boca cheia, oferecer ajuda para lavar a louça, arrumar o quarto depois de brincar e todas essas coisas que nunca vamos saber se aprendemos de fato nas aulas ou na vida passando pelas situações.
Hoje em dia não sei se esse tipo de aula ainda é dada nas escolas, mas com certeza estamos todos, não só as crianças, precisando de aulas de etiqueta voltadas especificamente para o uso de redes sociais. É cada absurdo que fica difícil saber como agir. Se eu fosse consultada sobre o conteúdo dessas aulas, com certeza começaria pelas marcações das fotos em instagram e facebook. Não é possível que seja tão complicado: se eu estou vesga, com pedaço de comida no dente ou apenas em um ângulo muito pouco favorável, não coloque a foto na rede. Mas, se ainda assim sua vontade de colocar aquela foto for muito grande e você não consegue se controlar, pelo menos não me marque na foto, é tão simples. Sim, eu sei que eu posso bloquear marcações, mas bom senso cabe em qualquer lugar, até nas redes sociais.
A segunda lição seria sobre discussões sobre assuntos polêmicos. Por algum motivo aquela máxima que diz sobre política e religião não se discute foi totalmente ignorada quando o assunto é rede social. Bom, essa lição seria complicada pois exige primeiro que as pessoas entendam que para discutir sobre algo é preciso se informar sobre esse assunto, se não não é discussão é apenas repetição de opiniões vazias. Segundo seria interessante arrumar um jeito de explicar que não é porque você não está na frente da pessoa que você tem o direito de xingar ou ser extremamente rude e, por favor, entendam que o fato de você ser rude com alguém no facebook não faz com que você possa passar por essa pessoa na rua e falar com ela normalmente como se nada estivesse acontecido, não é como se o que acontecesse no facebook ficasse apenas ali. E por último eu iria propor uma aula que explicasse que se você colocou sua opinião publicamente no facebook, você está sim abrindo espaço para discussão, você não pode dar sua opinião e querer proibir os outros de comentarem, seria como chamar alguém na sua casa, dar sua opinião polêmica e proibir a pessoa de falar, pois ela está dentro da sua casa. Não quer debater, não puxe assunto! É mais simples do que a gente imagina.
Bom, ainda iria propor várias outras coisas como: se eu saí do grupo foi porque eu quis, não me coloque de volta. Se não te respondi foi porque não deu, não insista. Não é porque é mensagem que você pode mandar a qualquer hora, todo mundo gosta de dormir sem ser interrompido por uma mensagem. Rede social não é lugar para indiretas, resolva seus problemas sem envolver todas as pessoas que nada tem a ver com isso. Se eu parei de te seguir ou desfiz a amizade é porque algo no conteúdo que você compartilha não me agrada. Se não aceitei seu convite pare e pense: somos mesmo amigos ou pelo menos conhecidos? Compartilhamos algum interesse que faz uma amizade na rede valer a pena?
Enfim, poderia ficar horas falando sobre o que penso sobre a vida nas redes sociais mas não quero me alongar, até na vida virtual é bom saber a hora de parar!
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