FAÇA UMA "HASHTAG" >> André Ferrer
A vida traz perdas e agressões. Um belo dia, a natureza, que
é selvagem, cumpre o seu papel. Dentro da bolha de plástico, a existência
torna-se insustentável.
Coisas das quais nem papai nem mamãe escapam. O filhinho,
então, nem se fala! Recorrer a quem? Aos direitos civis? Às passeatas?! À
arte performática?!
Os bebês da Geração Z (nascidos a partir de 2001) nascem
geniais, mas precisam de Ritalina quando chegam à escola. Dominam, decerto, os “tablets”
e os celulares, mas é da mesma forma que, há séculos, filhos de lavradores
chineses, ainda muito novos, dominam o ábaco e os fundamentos das quatro
operações. Em jogo, as mesmas capacidades humanas que moviam qualquer membro das
gerações anteriores à Z, a Y (1980 a 2000) e a X (1965 a 1979), bem como
qualquer “baby boomer”, que é como se chamam os nascidos entre 1946 e 1964, com
o seu chocalho do “Mickey Mouse”; a mesma curiosidade, enfim, que agitava um
bebê macedônico agarrado ao seu brinquedo feito de seixos e conchas.
Muitos, hoje em dia, creem que as crianças deixam o útero
adaptadas ao “touchscreen”, o que não passa de mais uma daquelas imposturas
domésticas. Ora, não se trata, tampouco, de um salto evolutivo patrocinado pela
Nova Era.
Importa, de fato, é que os brinquedos disponíveis em épocas
anteriores respondiam sempre da mesma forma e, a não ser que pais e mães
otimizassem o jogo, o objeto pouco intuitivo — tanto para crianças quanto para
adultos — em nada modificava o comportamento humano. Afinal, quem tinha a
obrigação de estimular a inteligência dos filhos eram os pais e não Pou, o
alienígena com cara de cocô.
Neste cenário, como a Geração Z chegará à maturidade? Especialistas
e consultores de RH profetizam uma grande crise no mercado de trabalho quando
esses jovens imediatistas começarem a ocupar seus postos. Capazes de manipular
todo aquele aparato tecnológico serão, também, capazes de solucionar um futuro
construído sobre alicerces tão assépticos?
Eis o problema: fecham-se as portas de um mundo a ser
explorado. Sem o desafio de provas que não só demandam respostas, mas respostas
que precisam de tempo para surgir, o homem cresce, fica velho e morre
questionando a vida nos termos mais patéticos e risíveis possíveis.
Então, a natureza é intolerante?! Preconceituosa?! Processe a
decrepitude por danos morais. Faça uma “hashtag” contra o Mal de Alzheimer, o
câncer e a morte.
Comentários