O AMOR QUE TU ME TINHAS >> Analu Faria
Sempre que um relacionamento termina, terminam sonhos. Não sonhos futuros, planos de viagem, filhos, casa, essas coisas. Terminam o “volta logo” na despedida do aeroporto, o “vou aonde você for” quando se anuncia uma possível mudança de cidade; termina a sensação de que o mundo é melhor quando a gente ouve o “eu te amo” dele/dela. Isso tudo que é bom demais no cotidiano, e que a gente trata com trivialidade, é sonho. E vai embora com o “adeus”.
Esta crônica é uma homenagem ao adeus de um relacionamento a dois. Porque o fim é tão bonito quanto o começo. As dores, é claro, são diferentes. A dor da incerteza, no começo, é quase um prazer. A dor do fim é quase um precipício. Mesmo assim, o fim é um filme que começa com ele subindo em uma árvore — para pegar aquela folha com cheiro de eucalipto que ela ia gostar —, passa por ela pensando “meu Deus, tô fodida, vou me apaixonar”, destaca a cena em que ele, dislexo, demora duas horas para escrever o bilhete pedindo-a em namoro, tem o ápice nas bebedeiras, brincadeiras e sexo no estacionamento e termina com os dois chorando no chão de uma quitinete. Aposto que você viu isso tudo passar pela sua cabeça enquanto eu narrava. E que pensou nos fins dos seus relacionamentos também.
Um brinde aos fins. E vamos esquecer essa baboseira de que eles são o começo de alguma coisa. O fim de um relacionamento é apenas o fim de uma história e a criação de um repositório de lembranças. O que virá depois é apenas outro cotidiano. Outro sonho, talvez. Talvez com outro fim.
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"Adeus também foi feito pra se dizer", do Guilherme Arantes.
"Para quem bem viveu o amor, duas vidas que abrem não acabam com a luz", do Gonzaguinha.