CHAMAS >> Zoraya Cesar
Não era o sujeito mais brilhante do mundo; era, até, meio bronco, mas Gilmar conseguiu passar na prova para o Corpo de Bombeiros. Raspando. O que o salvou foi a prova física, na qual tirou nota máxima.
Um uniforme, vocês sabem, atrai mulheres como formigas no pão doce. E Gilmar era calmo, pacato. Não gostava de farras, jogatinas, churrascadas.
Não à toa, portanto, que Lucinha, a meiga, simples, sonhadora Lucinha, de crespos cabelos negros e grandes olhos castanhos, apaixonou-se por ele. O bombeiro, como sabemos, era meio devagar para perceber as coisas, mas os amigos, esses o alertaram que a moça mais bonita e valorosa da região estava a fim de um relacionamento sério.
Casaram-se. Casaram-se e tiveram uma filha. Lucinha trabalhava de doceira, quituteira e, eventualmente, faxineira. Tudo pela família, para ajudar nas contas e crescer na vida com seu amado Gilmar.
A vida seguia tranquila. A vida sempre segue tranquila até deixar de seguir, não é mesmo?
Pois teve uma noite em que a equipe de Gilmar socorreu as vítimas de um sobrado em chamas. Ele subiu até o terceiro andar, para resgatar a última refém do fogo.
No instante em que a viu, seu coração incandesceu. Lá estava ela, acuada pelas labaredas, seus cabelos tão rubros quanto o fogo que a cercava, os olhos reluzentes e destemidos de quem sabe que a morte é inevitável, mas, nem por isso, deve ser aceita sem luta. Seminua, seu corpo brilhava pelo suor que escorria nas suas ancas grossas e peitos grandes, toda ela exuberando sensualidade.
Agarraram-se ali mesmo, no meio do turbilhão de fogo que os envolvia, um corpo derretendo contra o outro.
Tornaram-se amantes. A incansável espanhola Estelita inflamava Gilmar com o conhecimento que adquirira em sua vida de dançarina da noite, dançarina que atravessara o oceano para perder-se em outras terras e encontrar, enfim, o amor.
Um amor que, a cada dia, mais se alastrava em suas almas, como fogo em campo aberto.
O sereno, plácido, quase bovino Gilmar transformara-se num esfaimado, devorador insaciável, que tinha sede e fome constantes da pele, do cheiro, da presença de Estelita, e dela somente. Consumiam-se nas chamas da carne, cada vez mais vorazes, cada vez mais dependentes do corpo um do outro, numa lascívia imensurável. Gilmar queria que Estelita largasse da vida. Estelita dizia que só casando. Gilmar não conseguia mais ficar sem ver Estelita, tocar Estelita, se perder em Estelita nem um dia sequer.
Convenceu Lucinha a contratar uma ajudante — Estelita, claro — para ajudá-la nos afazeres domésticos, cada vez mais pesados, por causa da criança.
E assim, três vezes por semana, Estelita dormia na casa de Gilmar que, mal a esposa caía no sono, corria para o quarto da amante, sedento, onde se devoravam rápida e vorazmente, numa ânsia quase ululante. Depois, ele passava o resto da noite virando-se na cama, o sono inquieto, tenso como um fio desencapado. A mera existência da esposa o incomodava. Divórcio não estava nos seus planos, Lucinha ficaria com boa parte de seu salário, e isso era impensável. Sua amásia gostava de roupas e perfumes caros, ele não podia prescindir de um centavo sequer.
Engendraram, ambos, um meio para se livrar do estorvo: forjariam um acidente no qual a casa explodiria, junto com Lucinha. A experiência de Gilmar como bombeiro garantiria que não seriam deixadas pistas, e ele daria um jeito de a criança não estar presente.
A explosão foi violenta, seguida por um incêndio arrasador. Da casa, os bombeiros encontraram apenas cinzas, iluminadas, aqui e ali, por umas poucas labaredas alaranjadas e azuis. Uma fumaça escura tentava subir em direção ao céu, mas era espalhada pelo vento.
Durante o funeral, Lucinha devaneava sobre as ironias da vida. Tanto fizeram, os dois amantes, que passariam a eternidade juntos, as cinzas misturadas e enterradas sob a mesma Terra da qual quiseram expulsá-la.
O tonto do Gilmar acreditou que ela não perceberia suas mudanças de comportamento, suas maneiras ríspidas, os rancorosos olhares de soslaio, o jeito de andar pela casa como um touro enjaulado. Somente aquele parvo creria no sono profundo da esposa enquanto ele se enrabichava com a ‘ajudante’.
Durante semanas, Lucinha engoliu o choro, mortificada. Não tinha para onde ir, não tinha a quem recorrer, nem como provar a infidelidade do marido. E tinha pavor de que ele tentasse tirar-lhe a criança. Mas a paciência é a arma dos fortes. Esperou.
A grande sorte, porém, foi que, de tão inquieto seu sono, Gilmar falava enquanto dormia. E o que Lucinha ouviu foi suficiente para virar o jogo a seu favor, pois, o que o marido tinha de desapercebido — tomado que estava pela luxúria —, ela tinha de sagaz. Não vivera com um bombeiro sem aprender algumas coisas. Adiantou o relógio que deflagaria todo o mecanismo da explosão num dia em que, ela sabia, Gilmar estaria em casa — com Estelita, claro — e foi passear com a filha.
Agora estava ela, viúva — não mais meiga, simples ou sonhadora —, com a pensão de sargento do marido traidor, e livre: dos amantes que pretendiam matá-la; da humilhação; do medo de ser mandada embora de casa, ou, pior, de ser mandada pelos ares.
Em homenagem às chamas que a libertaram, pintaria o cabelo de vermelho. Olhou em volta. O tenente do batalhão parecia ser um homem interessante...
Comentários
E nenhum detalhe mais "picante" do "rala e rola" dos amantes, principalmente!
E quando a Lucinha começou a pensar em "brincar" acabou a crônica!
Assim não pode, assim não dá para ganhar dinheiro!
Dê uma olhada nos livros da Bruna Surfistinha e da Andressa Urach (veja o link desse abaixo). O de uma virou até filme e da outra está vendendo feito água!
http://www.batanga.com.br/1482/orgasmo-com-cachorro-veja-10-revelacoes-bombasticas-de-andressa-urach-em-livro
Nem mesmo um Gilmarzinho bocó é homem que o valha, tomara que o tenentinho o seja...
ou, se bobear, Felipe Espada pega Lucinha com a mão na massa quando tiver dando outro golpe da viúva de cabelos vermelhos!
beijo!