COM OS OUVIDOS NA TOMADA >> Carla Dias >>
Essa minha cabeça é palco. Tudo que me falta, esparrama-se nela. Pensamentos produzem verdadeiros festivais de cinema e música. Já fiz filmes: história com começo, meio e fim e cast dos bons, atores e atrizes brasileiros e estrangeiros, mas estrangeiros de todos os cantos desse mundo. Ricardo Darín e Jean-Huges Anglade que o digam. Quer dizer, não dirão. Eles não sabem de mim e dos meus filmes imaginários.
Os shows que acontecem nesse palco são sortimentos. Há cores, ou tons, ou a tal da pluralidade de estilos. Os shows que acontecem nesse palco permitem jam sessions de fazer meu coração bater mais rápido, em ritmo de samba, funk, rock’n’roll. Nesse clube eu sou VIP.
Quando não há silêncio, e sim barulhos que não me interessam, toco uma playlist de músicas de artistas variados na minha cabeça. Porém, nessa semana tem sido diferente. Apeguei-me ao disco novo de um artista que adoro. Desde então, ele está no repeat.
A primeira vez que escutei Filipe Catto, também foi quando caí de amores por uma música que considero das mais bonitas. Adoração é obra-prima, ao menos para os meus sentidos. Música que tem essa poesia abarcando sua letra. De quebra, essa canção me chegou com belíssima embalagem-interpretação. Filipe é daqueles interpretes que levam o ouvinte a uma verdadeira jornada, a partir de uma canção. Voz de uma lindeza capaz de trafegar pelas emoções contidas em uma música e reverberá-la até emocionar aqueles que são fisgados por ela.
Então, chegou Tomada. Já escutei o disco várias vezes e nele tudo me agrada. Sei que “tudo” parece palavra colocada para qualificar o absoluto, e o absoluto não me interessa. Mais uma vez: não sou crítico musical, escrevo sobre meu gosto, que pode nem ser o seu. Só que escutei o disco várias vezes — e estou escutando o tal neste momento, enquanto escrevo — e nada nele contraria o meu gostar de “tudo”. Esse tudo cabe bem na minha benquerença musical.
Filipe Catto anda artista presente no meu palco interno. Ele não sai da minha cabeça. Gosto dele, mas de gostar de um jeito, que ele acabou entrando para a lista daquelas pessoas que não conheço, das quais aprecio profundamente a obra e o talento, com as quais adoraria ter uma boa conversa regada a café fresco e questionamentos: como? Quando? Por quê? Tem mais? E saber a biografia da obra e do autor dela. Não a biografia explícita em encartes e fichas técnicas, autorretrato promocional. A biografia das entrelinhas, das pausas prolongadas por uma reflexão a respeito do que concedeu toques de milagre à feitura.
Agora, não paro de pensar como será o dia em que eu verei Filipe Catto em um palco onde ele realmente esteja.
Tomada é de um escancaro poético e de um requinte musical que tornam o disco próprio para fazer parte do acervo emocional de um bom ouvinte de música. Está tudo lá: sutilezas, confissões, deslumbramentos, mágoas e catarse, entre outras condições e emoções que toda boa canção pede. Nas quais cada ser humano, eventualmente, embarca.
O mais bacana é que você pode conferir o disco clicando aqui. Depois me conte se Filipe Catto não bagunçou seu dentro com esse disco. O meu ele bagunçou... E continua a bagunçar.
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